quarta-feira, agosto 20, 2003

desgosto artificial

A propósito do post «gosto artificial», do canhoto J, acresce dizer que a estratégia de artificializar o gosto se estende a áreas perigosas, que se prendem com a natureza humana.
É sabido que as multicionais da alimentação rápida (McDonald's, Burguer King, Pizza Hut e companhia) apuraram o gosto dos seus produtos no sentido de os reduzir aos sabores mais primários que o ser humano reconhece. Daí que as crianças (que ainda não desenvolveram toda a complexidade de reconhecimento gustativo que contém a diversidade das papilas gustativas) se entusiasmem tanto com os sabores dos hamburgueres e molhos e sobremesas dessas casas.
A consequência mais grave da proliferação monopolizante destas seitas prende-se com a perda da diversidade gustativa dos indivíduos. É como se reduzissemos o espectro das cores às cores primárias.
Se, por exemplo, levamos tantos anos a aprender a apreciar um bom vinho (como uma música menos imediata ou um livro mais complexo), tal deve-se à riqueza que esse produto contém em si, e que exige educação dos sentidos. Pelo contrário, um hamburguer do McDonald's - como o aroma do couro artificial, os aromatizantes para flores, pão, bolos, frutas, etc. - é perceptível de imediato como "agradável", devido ao adocicado e salgado dos molhos.
As gerações novas, mais expostas a estes gostos únicos, e com menos oferta (ou de mais difícil acesso) à diversidade natural dos alimentos, própria da alimentação tradicional, verão empobrecido o desenvolvimento das suas próprias papilas gustativas.
Ora, não acham que estas empresas deviam ser julgadas por atentados à natureza humana?
CC

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