quarta-feira, agosto 31, 2005

Sombras do Passado

O Penedo da Saudade tinha uma aura quase mágica naquelas tardes de Verão. Lá descíamos a “Cumeada”, nome por que era conhecida a Av. Dias da Silva, passávamos à frente do Quartel da GNR, de onde por vezes saía a guarda a cavalo, em parada, com farda de gala para gáudio da pequenada, e lá chegávamos, não sem antes lançarmos umas pedras aos respiradores do depósito da água.
Nunca sabíamos muito bem por onde começar a aventura. Não me recordo de ter entrado duas vezes pelo mesmo sítio. Mas sempre ouvíamos o cantar sorridente da água entre pedras cobertas de musgo, sempre gelada fosse qual fosse a temperatura da tarde.
Perdíamo-nos a ler as lápides, sombras algumas de mortos que teimavam em se agarrar, ali, a um pouco mais de tempo, e que deixavam na pedra as suas memórias, a sua saudade de uma juventude que não voltara e a alegria de reencontros sentidos. Ali sentados escutávamos os ecos de versos que não faziam ainda sentido mas que, invariavelmente, nos atraíam.
Lá em baixo, o Calhabé mostrava-nos o Estádio e um ou outro bairro. A encosta do outro lado cobria-se de um verde que não mudava fosse qual fosse a época do ano, massa insondável e intransponível de pinhal.
Ainda hoje não compreendo por que nos dava para ir ao Penedo da Saudade. Nunca ali conseguimos brincar. Invariavelmente dávamos por nós sentados com as mãos preguiçosas dentro da água fresca.
Da última vez que ali estive, quase não vi verde do outro lado do vale. Apenas prédios e mais prédios, novas avenidas cortadas a esmo em terra vermelho-barro. E, mais uma vez, percebi porque não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes.
AR

Foto roubada


ao Juramento sem Bandeira ( já agora, parabéns pelos 2 anos de blogagem musical, um dos meus hobbies favoritos). Este senhor é o Martin Bulloch, baterista da banda de rock progressivo/distorção/ pequenas explosões no céu/ ambiente marado, dizia eu, da banda escocesa Mogwai. Por acaso o melhorzinho que se ouviu no passado domingo no Lisboa Soundz. Não, por acaso até foi muito bom já que os Franz Ferdinand estiveram a meio gás.

De qualquer forma, foto roubada apenas para salientar essa correlação muito forte (digamos um r = 0.99 ) entre a variável boa música e a variável clubes desportivos que realmente importam.

Só para começar ...

Sofia

terça-feira, agosto 30, 2005

pode-se tirar o homem da Vivenda Mariani, mas não se pode tirar a Vivenda Mariani do homem

O Pedro pergunta num comment mais abaixo se não ponho a hipótese de o mastigador de bolo-rei ser o homem providencial, o salvador da pátria. Com três letrinhas apenas: não.
Cavaco continua a ser o «rapaz da Escola Comercial» (obrigado VPV) deslumbrado com a alta política, candidato a estadista a que ninguém liga internacionalmente. Continua a ser o «homem sério» mas capaz da mais rasteira manobra política - Fernando Nogueira que o diga. Continua a ser o «professor doutor» que não faz a mínima ideia como funcionam as empresas e o mundo real. E ultimamente é candidato a «opinion maker», ventilando nos jornais a sua repugnância a Santana Lopes como se nunca o tivesse convidado para seu secretário de Estado.
Em matéria de «homens providenciais» e «salvadores da pátria», o campónio Salazar tinha ao menos uma visão do País e do mundo (voltarei a este tema). O campónio Cavaco tem, quanto muito, uma visão de Boliqueime.
LR

quando eu era miúdo...

... havia uns guichets de vidro onde dizia: fale aqui diante do Hygiaphone.
LR

vae victis



Ó holandês, vê lá se te atinas! Agora contratámos o Karagounis, acabam as desculpas - toca a ganhar...

LR


sexta-feira, agosto 26, 2005

ainda os incêndios do regime e a viscosa pátria

Conforme reproduzido abaixo, com grande e devida vénia, diz Paulo Varela Gomes: «(...) o colapso da autoridade do Estado central e local, este regime de desrespeito completo pela lei, que começa nos ministros e acaba no último dos cidadãos. É o território do incumprimento dos planos, das portarias e regulamentos camarários, o território da pequena e média corrupção, esse sangue, alma, nervo da III República (...)».
E já em 1997, falava Vasco Pulido Valente da «(...) voluntária cobardia do "guterrismo" e do PSD, que se renderam às máquinas partidárias e ao populismo dos caciques locais (...)».
A "civilização" nasce da conjugação do respeito pela lei (o que implica o regular funcionamento dos mecanismos que a fazem funcionar, designadamente os tribunais) com o esclarecimento dos indígenas (e aqui presume-se a existência de escolas e meios de comunicação social dignos desse nome).
No Portugal pós-74, temos algum acerto legislativo (existem disparates a esse nível, mas de reduzida dimensão e gravidade) mas total inoperância das instituições. O sentimento de impunidade leva a que venha ao de cima, sem peias, o pior do portuguesismo - naquilo que é meu mando eu, guardo lá os bidons de gasóleo ou os pneus usados que podem vir a dar jeito. Ou quando já não dão mesmo, vou despejar no do vizinho a meio da noite que é para ninguém ver.
Os principais responsáveis pela perda de autoridade do Estado estão à Esquerda. Mário Soares e Jorge Sampaio (muitos outros haveria, por uma questão de critério fiquemos pelos que ocuparam a cadeira da Presidência) pensam, por ignorância ou não, que os princípios civilizacionais que observam na vida diária são "inatos e naturais", e que toda a gente tendencialmente os respeitará - pelo que "não gostamos de polícias, sr. guarda", vá-se lá embora que é tudo boa gente e a malta entende-se. Só que a malta não se entende, e não vai cumprir leis chatas e PDMs e o raio se não levar uns puxões de orelhas volta e meia.
Quanto à caciquização e despesismo, as responsabilidades dividem-se entre Esquerda e Direita. O aumento desmesurado da administração pública central e local dá-se a três tempos: em 74-75, com o assalto do PCP à máquina administrativa e instalação na mesma dos seus militantes e simpatizantes; a partir de 87, com o cavaquismo em todo o seu esplendor; e após 95, com o fartar vilanagem de Guterres e seus herdeiros espirituais (Durão, PSL, Sócrates). E o caciquismo deu origem às conhecidas figuras sinistras em todos os partidos, as quais não menciono por razões puramente sanitárias - ficando porém o dedo apontado a Cavaco Silva, responsável directo pelo desbaratar de fundos comunitários gastos em rotundas e jipes.
Ardida a pátria e esvaziados os cofres, virá a anarquia grunha e boçal da Maria da Fonte, da Patuleia, do Remexido e do Padre Casimiro. Nada de novo...
LR

quinta-feira, agosto 25, 2005

nesta viscosa pátria...

... que vemos arder todos os dias, à espera da bancarrota, há ainda espaço para pequenas alegrias: 50.000 visitas à Quinta Coluna. Iupi.
LR

segunda-feira, agosto 22, 2005

pobre país este...

... em que Moita Flores e Arrobas da Silva são candidatos às autárquicas.
LR

sábado, agosto 20, 2005

Paredes de Coura 2005

No rescaldo do festival só me vêm à cabeça metáforas relacionadas com fogo, quer porque tudo à volta é um fogo posto ou não fosse Agosto (Viana do Castelo, Ponte de Lima e agora Vila Nova de Cerveira), quer porque os Arcade definitivamente pegaram fire ao festival que, com o melhor cartaz de sempre de Paredes, do Verão, da Europa, da Vida, do Universo e tudo mais, tinha as melhores condições para deixar mais actuações memoráveis.
No primeiro dia vi com preocupação que acabei por gostar mais do hard rock ginasticado dos Foo Fighters, mesmo sabendo que o grupo em si é infantil e uma boa porcaria (adenda: perdemos os !!!, tchk tchk tchk para os leigos, porque na malfadada vila não se encontra uma única indicação para o recinto, nem se ouve ou vislumbra sinal de festival). Do segundo dia, de todos o mais cansativo e preenchido, concluo que os Pixies envelheceram mal e que só estão nisto pelo dinheiro. Não há pingo de rebeldia, de arte em mimetear os hits da tua banda (e vinda de um concerto não memorável também dos U2 acho que dá para ouvir a diferença para alguém que ainda gosta da música que faz). Os QOTSA amei e se tivesse mais coragem e não fosse miúda propensa a ataques claustrofóbicos iria para o moshe, porque nisso eles são bons, descargas de adrenalina e violência controlada. Estes são bons e não abro mais pontos na discussão. Restou nestes dias um rock mais ou menos indiferenciado, onde tudo soa mais ou menos igual, sejam os Bravery, os Futureheads ou os Hot Hot Heat, ou seja, um much ado about nothing (e até o digo com alguma tristeza porque admiro bastante os Futureheads) . Julliette Lewis é mais uma encenação de todos os clichés do rock, das calças brancas de cabedal ao cabelo a lembrar o melhor dos Bon Jovi, até alguns stage dives para o que não é mais do que uma banda de covers.
Sobram realmente duas, talvez três actuações porque a minha alma metaleira vibrou muito com os QOTSA. Vivam os Arcade e o child of night, Nick Cave, a quem idade só apurou os instintos.

Sofia



Deve ser triste ter nascido a ouvir a música dos pobres anos 90 e pensar que o mundo se resume à estopada dos riffs do grunge e às letras sem sentido dos grupos que tentavam imitar os Pixies (que, por sua vez, já são um sub-produto dos velhinhos Sonic Youth). Daí que seja fácil impressionar as crianças: basta pôr-lhes a tocar no rádio o bom rock lusitano pré-CEE que elas vibram todas e se espantam com o que de genuíno, criativo, interventivo e inovador se fazia por cá.
Depois explicamos-lhe que o mundo não começou em 1992: as "bandas-maravilha" de hoje decalcam despudoradamente os grupos (mesmo os medianos) dos anos 80: os Bravery os Joy Division, os Depeche Mode e os Duran Duran; os Hot Hot Heat os XTC; os Futureheads os The Jam e The Specials; os Kaiser Chiefs fazem um melting de todos os eighties e imitam outros bons copiadores - os Franz Ferdinand. Os outros fazem barulho, como as explosões no cinema, para assombrar os pategos: Foo Fighters sem pretensão (até seria um excelente concerto, se tivessem canções de jeito), os Queen of the Stone Age mais refinados, até enganam críticos incautos. Barulho a rodos, como se a música fosse apenas um suporte de jogos de computador. Não é, felizmente.
A provar isso, temos os novos (vejam como eu sou objectivo!) Arcade Fire, muito rebeldes, divertidos, eruditos e criativos. Fizeram, em menos de uma hora, o funeral às bandas de sub-suporte. Já os Pixies (uma espécie de crianças-velhas, como aquele síndrome de não-sei-quê), mostraram-se aborrecidos com as suas próprias canções do século passado. Realmente, já deram o que tinham a dar.
Sobra, então, o melhor, o velhinho Nick Cave, cheio de garra, de alma, de coros, de letras complicadas que falam de coisas pesadas e profundas, de Deus que está em casa, do remorso, do sofrimento, do amor para além da epiderme. Do fogo.

CC

sexta-feira, agosto 19, 2005

another one bites the dust

O Aviz também acabou. Há um blogocídio em curso.
LR

quarta-feira, agosto 17, 2005

assino por baixo (e comentarei um dia destes)

Os incêndios do regime
Paulo Varela Gomes

O território português que está a arder - que arde há vários anos - não é um território abstracto, caído do céu aos trambolhões: é o território criado pelo regime democrático instalado em Portugal desde as eleições de 1976 (a III República Portuguesa). Está a arder por causa daquilo que o regime fez, por culpa dos responsáveis do regime e dos eleitores que votaram neles.
Ardem, em Portugal, dois tipos de território: em primeiro lugar, a floresta de madeireiro, as grandes manchas arborizadas a pinheiro e eucalipto. A floresta arde porque as temperaturas não param de subir e porque, como toda a gente sabe, está suja e mal ordenada. Não foi sempre assim: este tipo de floresta começou a crescer nos últimos 50 anos, com a destruição progressiva da agricultura tradicional, ou seja, com a expropriação dos pequenos agricultores, obrigados em primeiro lugar a recorrer à floresta pela ruína da agricultura, para, depois, perderem tudo com os incêndios e desaparecerem do mapa social do país. Também isso está na matriz da III República: ela existe para "modernizar" o país, o que também quer dizer acabar com as camadas sociais de antigamente, nomeadamente os pequenos agricultores. Em 2005, os distritos de Portalegre, Castelo Branco e Faro ardem menos que os outros e não admira: já ardeu aí muita da grande mancha florestal que podia arder, já centenas de agricultores e silvicultores das serras do Caldeirão ou de S. Mamede perderam tudo o que podiam perder.
O segundo tipo de território que está a arder, em particular neste ano de 2005, é o território das matas periurbanas, características dos distritos mais feios e mais destruídos do país: os do litoral Centro e Norte. Os citadinos podem ver esse território nas imagens da televisão, a arder por detrás dos bombeiros exaustos e das mulheres desesperadas que gritam "valha-me Nossa Senhora!": é o território das casas espalhadas por todas as encostas e vales, uma aqui, outra acolá, encostadas umas às outras, sem espaço para passar um autotanque, separadas por caminhos serpenteantes, que ficaram em parte por alcatroar - é o território das oficinecas no meio de matos de restolho sujo de óleo, montanhas de papel amarelecido ao sol, garrafas de plástico rebentadas. É o território dos armazéns mais ou menos ilegais, cheios de materiais de obra, roupas, mobiliário, coisas de pirotecnia, encostados a casas ou escondidos nos eucaliptais, o território dos parques de sucata entre pinheiros, rodeados de charcos de óleo, poças de gasolina, garrafas de gás, o território dos lugares que nem aldeias são, debruados a lixeiras, paletes de madeira a apodrecer, bermas atafulhadas de papel velho, embalagens, ervas secas. É o território que os citadinos, leitores de jornais, jornalistas, ministros, nunca vêem porque só andam nas auto-estradas, o território, onde, à beira de cada estradeca, no sopé de casa encosta, convenientemente escondido dos olhares pelas silvas e os tufos espessos de arbustos, há milhares - literalmente milhares - de lixeiras clandestinas, mobília velha, garrafas de plástico, madeiras de obras (é verdade, embora poucos o saibam: o campo, em Portugal, é muito mais sujo que as cidades).
Este território foi criado, inteiramente criado, pela III República. Nasceu da conjugação entre um meio-enriquecimento das pessoas, que, 30 anos depois do 25 de Abril, não chega para lhes permitir uma verdadeira mudança de vida, e o colapso da autoridade do Estado central e local, este regime de desrespeito completo pela lei, que começa nos ministros e acaba no último dos cidadãos. É o território do incumprimento dos planos, das portarias e regulamentos camarários, o território da pequena e média corrupção, esse sangue, alma, nervo da III República. É evidente que a tragédia dos campos e das periferias urbanas portuguesas se deve também ao aumento das temperaturas. Para isso, o regime tão-pouco oferece perspectivas. De facto, seria necessário mudar de vida para enfrentar o que aí vem, a alteração climatérica de que começamos a experimentar apenas os primeiros efeitos: por exemplo, seria necessário reordenar a paisagem, recorrendo à expropriação de casas, oficinas, armazéns, sucatas. Seria necessário proibir a plantação de eucaliptos e pinheiros. Na cidade, pensando sobretudo nas questões relativas ao consumo de energia, seria necessário pensar na mudança de horários de trabalho, fechando empresas, lojas e escolas entre o meio-dia e as cinco da tarde de Junho a Setembro, mantendo-as abertas até às oito ou nove da noite, de modo a poupar os ares condicionados - cuja factura vai subir em flecha. Modificar os regulamentos da construção civil, de modo a impor pés-direitos mais altos, menos janelas a poente, sistemas de arrefecimento não eléctricos.
Para alterações deste calibre - que são alterações quase de civilização -, seria preciso um regime muito diferente deste, um regime de dirigentes capazes de dizer a verdade, de mobilizar os cidadãos, de manter as mãos limpas.
Vivo no campo ou perto do campo, na região centro, há já alguns anos. Há três Verões que me sento a trabalhar, enquanto a cinza cai de mansinho no meu teclado, em cima dos meus livros, no chão que piso.
Não tenho culpa do que é hoje este país e o regime que o representa: militei e votei sempre em partidos que apregoavam querer outro tipo de regime e deixei de militar e de votar quando vi esses partidos tornarem-se tão legitimistas como os outros.
Espero um rebate de consciência política por parte destes políticos, ou o aparecimento de outros. Faço como muitos portugueses: espero por D. Sebastião, desempenho a minha profissão o melhor que posso, e penso em emigrar.
Historiador (Podentes, concelho de Penela)
(do Público, 11-08-05)
LR

qual é a equipa da Superliga, qual é ela...

que vai dispensar um internacional português, porque o dito cujo foi apanhado com a mulher do Presidente? Ou foi ela que foi apanhada com a boca na botija? Ou a botija na boca? Já nem sei...
LR

bruscamente, no Verão corrente...

acabou o Fora do Mundo. Porra.
LR

segunda-feira, agosto 15, 2005

I, robot

Nos anos 80, eu e o meu amigo AR lemos em simultâneo um livro que um de nós descobriu ao acaso e que depressa revelou ao outro. Já não me recordo quem foi o autor da descoberta que mudou para sempre as nossas vidas e o olhar sobre a vida, o universo e tudo o mais. O livro, da autoria de Douglas Adams, era uma trilogia (em três partes, visto que a obra completa é uma trilogia em cinco partes) e, em português, chamava-se O Guia Galáctico do Pendura.
Conta uma história maravilhosa sobre... isso mesmo, a vida, o universo e tudo o mais.
O livro esteve esgotado durante muito tempo e o primeiro volume foi reeditado em português há poucas semanas, a propósito da estreia do filme, anunciada para 25 de Agosto. Chama-se À Boleia Pela Galáxia e tem a chancela da editora Saída de Emergência (a antiga edição era da Difel).

Inicialmente, a ideia foi desenvolvida para um série radiofónica da BBC, emitida em 1978, mas o sucesso da emissão deu origem, mais tarde, a uma série televisiva, baseada nos livros entretanto editados: The Hitchiker’s Guide to the Galaxy; The Restaurant at the End of the Universe; Life, the Universe and Everything; So Long and Thanks for All the Fish e Mostly Harmless.
O sucesso foi de tal ordem, em 2001, data da morte de Douglas Adams, a série já tinha vendido mais de quinze milhões de cópias.
Não conto a história ou a sinopse do filme (apenas revelo que o planeta Terra é completamente destruído logo no início da história, devido à necessidade da construção de uma via intergaláctica) nem me debruço muito sobre as personagens. Deixo só um recado: não se esqueçam da toalha e, por nada deste mundo (ou doutros quaisquer), oiçam poesia dos Vogons.

Eu e o AR gostámos tanto do livro que bem que nos podíamos inscrever neste clube. Um pouco mais tarde, também o LR o leu (embora não ficasse devoto como nós) e, há pouco tempo, soube com surpresa e satisfação que também a Sofia tinha lido o livro-culto há cerca de dez anos e tinha gostado. Tanto que o está agora a reler.
Quando, há quase 20 anos, líamos O Guia Galáctico do Pendura, dizia-me o AR que imaginava sempre uma das personagens (por sinal, a mais inteligente e divertida - no seu modo particular de se divertir...), o robot Marvin, o Andróide Paranóide, com a minha figura. Eu era o Marvin. Ainda hoje não sei bem porque é que o AR achava que o Marvin podia ter sido inspirado em mim, mas esse facto deixa-me com o sentimento ambivalente: fico orgulhoso e preocupado. O Marvin é querido, muito inteligente, mas um tudo-nada deprimido. Bom, talvez mais que um tudo-nada. Mas tem piada e é um bom companheiro. Mas um tudo-nada chato. Bom, talvez mais que um tudo-nada. Mas é prestável. Mas um tudo-nada pessimista. Bom, talvez mais que um tudo-nada. (Estou a aborrecer-vos com esta conversa?)


Deixo-vos com algumas reflexões do meu alter-ego:

- I think you ought to know I'm feeling very depressed.
- I won't enjoy it.
- Well I wish you'd just tell me rather than try to engage my enthusiasm.
- Why should I want to make anything up? Life's bad enough as it is without wanting to invent anymore of it.
- Life! Don't talk to me about life.
- Life, loathe it or ignore it, you can't like it.
- It gives me a headache just trying to think down to your level

- It doesn't take me long to get nothing done.
- Wearily on I go, pain and misery my only companions. And vast intelligence, of course. And infinite sorrow. I despise you all.

- I'm bored.

Marvin, the Paranoid Android
CC

sábado, agosto 13, 2005

esta já cá mora

LR

sexta-feira, agosto 12, 2005

pois, boas férias


(também vou).
CC

férias! ahhhhhhhhhh..... (descompressão em marcha)



+





Boas férias,
Sofia

shag (song) shag

Enquanto os rapazes se divertem com os putativos candidatos presidenciais lembrei-me de tecer umas considerações sobre a estreia do 9 songs que assisti na semana passada no King seguido de debate com o crítico de cinema João Lopes, o blogger/poeta Pedro Mexia e a sexóloga Erika (não sei o apelido) sobre pornografia no cinema. Agradeço o debate. Fico com pena que não se repitam mais iniciativas destas, talvez assim não achasse tão estopada o Dark Waters ou o Batman Begins, e outros tantos que não beneficiaram de alguma maturação para além do simples não presta! Gostei do enquadramento cinéfilo dado por Pedro Mexia e João Lopes, concordei com quase todas as notas de Erika.





Convenhamos, o filme segue uma estrutura tipificada: canção filmada em concerto (que a sexóloga acha que conta a verdadeira história da relação para além de tudo aquilo que a imagem não nos dá) e cenas de queca . O tal shag/song/shag, uma espécie de mcDononalds (pela sua previsibilidade) que a partir de certa altura indica que o vem a seguir será ou shag ou song. Dá um certo descanso e torna a coisa monótona também. Entrecortadas estão as outras cenas, comuns a qualquer relacionamento: rapaz cozinha para a rapariga, fim-de-semana na praia, rapariga observa rapaz a barbear-se, rapariga lê em voz alta para rapaz, rapaz leva rapariga a um club de strip (fase, ao que parece, extremamente comum em todos os relacionamentos, vide 9 semanas e 1/2). O casal não tem amigos, poucos interesses em comum, conversas banais na cozinha e na cama e doses saudáveis de sexo. João Lopes considerou que as cenas de sexo eram cenas de passagem. Para mim, estas eram as verdadeiras cenas. Transitórias (escassas) seriam as outras, sem explicação, apenas fragmentos. No sexo ao menos vemos uma progressão. Tudo o resto é fugaz, desapegado. O sexo está bem presente, por vezes explícito, no sentido em que se vêem órgãos genitais, cópula, sexo oral, e apesar da descrição algo técnica que apresento agora, gostei. Aqui entra também a parte idiota de promoção do filme: ehehe o filme mais explícito inglês, ehehe dura 69 minutos, ehehe, acaba-se com o sorriso alarve por favor.

Afinal as shag scenes, para o meu contentamento e de muitos casalinhos que na sala trocavam apertos de mão, festinhas na perna, eram credíveis (e com isto digo até identificáveis, e por ser de alguma forma familiares, são bonitas). Não propriamente excitantes, mas ternas sem dúvida. Mesmo com o corpo de modelo da actriz (que é modelo e actriz) e o pénis bem abonado do actor, a sucessão de carinhos, de beijos, o suor, os movimentos dos corpos, são realistas. Não estamos perante aquelas cenas estafadas de mulheres em êxtase através de cortinas e tecidos transparentes tipo Emanuelle ou o hardcore desapaixonado da cena centrada na exposição ad nauseam de movimentos mecânicos dos filmes porno. Filmar sexo realmente é difícil, mais difícil parece ser definir uma relação para além do sexo. Pelo menos aqui. Nota importante, muitas das cenas centram-se no prazer no feminino. Isto apesar da personagem feminina ser apresentada como egoísta, neurótica, louca. Pena que alguém que aparenta ter uma sexualidade saudável esteja conotada com essas características. Claro está que o filme está contado a partir das memórias do homem. Talvez explique.

As songs são brit rock, nada de muito novo (Black Rebel Motorcycle Club, Franz Ferdinand, The Von Bondies, Dandy Wharhols), ou ainda menos novo (Primal Scream). Não considero extraordinária a forma como foram filmadas, pode-se até considerar que as canções são apenas um chamariz, como se houvesse uma tradição do 24 Hour Party People a manter. Não se depreende grande paixão do casal pelos grupos. Falam de dança, há um concerto de Nyman que marca o início do fim da relação, mas de resto não vejo grande sentido para ter 9 canções, inteiras, filmadas em concerto, para o desenrolar da história. Sempre dá para bater o pé no cinema. Neste sentido isto não é um filme sobre música, muito menos um sucessor do 24 Hour.

Veridicto final: é curioso. Pelo menos deu bastante debate.

Sofia

quinta-feira, agosto 11, 2005

sangue novo


CC

quarta-feira, agosto 10, 2005

Momento Jurássico



















AR

momento snob


Nas próximas presidenciais, vão a votos os dois principais responsáveis pelo estado a que isto chegou. Na hora de escolher, mal por mal voto no único que sabe comer à mesa.
LR

O buraco

Ontem à noite cometi o acto tresloucado de ouvir um bocado das notícias. Digo bem: tresloucado. Apenas para constatar aquilo que venho pensando há algum tempo. Que mais vale fechar a loja e irmos todos embora.
Há muita gente que diz que não percebe como é que, ano após ano, e apesar do reforço dos meios e do aumento dos gastos, o país continua a arder. Ou são tontos ou são parvos.
O país arde porque se quer que arda. O Estado não se importa, os madeireiros, as celuloses, os proprietários dos pinhais, os municípios e as empresas que alugam ou vendem equipamento querem que arda. Vejamos.
Os madeireiros e as empresas de transformação de pasta de papel querem que arda porque compram a madeira mais barata com uma redução mínima na qualidade. Os proprietários querem que arda porque, em diversos locais, depois dos incêndios, surgem projectos de loteamento e urbanização, que trazem adstritos lucros chorudos. Os municípios ganham exactamente por aquilo que cobram e lucram a prazo com esses novos projectos urbanísticos. As empresas que alugam aeronaves lucram porque têm mercado garantido para o seu equipamento, que lhes cobre as despesas do ano todo. E todos eles sabem que, por cá, o crime compensa.
Como se pode imaginar, e como tantas coisas por estas bandas, o remédio para isto não está em Roma. Bastava querer. Proibiam-se projectos de urbanização em área ardida durante, pelo menos, cinco anos. Taxavam-se as transacções com madeira queimada com um imposto suplementar que incidisse sobre o valor do negócio e que tivesse uma taxa na ordem dos 100%. E o Estado, em vez de alugar equipamento, comprava-o. Com o dinheiro que se gasta anualmente dava para comprar uns quantos aviões Canadair, que seriam operados pela Força Aérea. É que pilotos já temos, e já lhes pagamos ordenado. E a Força Aérea não teria, obviamente, problemas em cumprir essas missões.
Mas as coisas neste país não ficam por aqui. A educação está abaixo de cão. A preparação é má logo na escola primária, o que condena ao fracasso, só por isso, uma larga fatia dos jovens que entram no sistema de ensino. A preocupação com as estatísticas em vez de com a qualidade, levou ao abandalhamento completo do sistema público de ensino. Um número que me atreveria a dizer maioritário nos nossos jovens estudantes é ignorante, inculto, incapaz de pensar, não lê e escreve mal. Os alunos universitários cometem erros inqualificáveis e o sistema educativo esqueceu o ensino profissional, de que tanto carecemos, optando-se por criar licenciaturas a esmo, normalmente as chamadas de “papel e caneta”, de que não precisamos.
No interior, os hospitais têm falta de médicos e os centros de saúde fecham recusando-se, na prática, a assistência médica aos mais idosos e mais isolados, enquanto no litoral os médicos não faltam e repartem o seu tempo entre o hospital e o seu consultório. E a Ordem dos Médicos, numa atitude infame e canalha, do mais rasteiro corporativismo, recusa reconhecer os diplomas de centenas de imigrantes de leste, muitos deles especialistas, condenando médicos ao trabalho na construção civil, desbaratando um saber de que este país tanto carece.
O governo decidiu que devíamos continuar a apertar o cinto. O método foi o mais fácil e o menos eficaz: aumentou os impostos. Enquanto isso, a Administração Fiscal reconhece a sua incapacidade para cobrar grande parte dos impostos em falta, por falta de meios de pela organização obsoleta dos seus serviços, que ninguém parece interessado em reestruturar.
O Turismo, que poderia ser uma inesgotável fonte de riqueza se bem orientado, foi tratado da mesma forma que tudo é tratado neste país. O Algarve é o caos urbanístico que se sabe, onde no Verão até a água falta, exemplo típico do tacanho espírito nacional do enriquecimento rápido e do quem vier depois que feche a porta. Na costa alentejana, apesar da protecção, caminha-se para o mesmo e o Alqueva, ao contrário das promessas, vai alimentar campos de golfe dos dois lados da fronteira e não, afinal, auxiliar a agricultura. Apesar de importarmos cerca de 80% do que comemos.
Continua-se a morrer brutalmente nas nossas estradas e a solução encontrada foi aumentar as multas. Não vi ninguém com responsabilidade dizer que se vão alterar os traçados que mais matam na Europa (que por acaso são cá!). Nem dizer que se vai investir em campanhas de sensibilização a sério, que durem o ano todo e vão das escolas à televisão. Os portugueses, com um dos mais baixos rendimentos da União, pagam tanto de imposto automóvel que têm que comprar utilitários ou citadinos para fazer as vezes de carros familiares. Os resultados estão à vista.
Podia continuar, ad infinitum, a falar de como vão mal as coisas por estas bandas. Acho que estamos, como povo, condenados ao fracasso. Este país está falido e ninguém se importa. Continuamos, alegremente, a destruir o resto do pouco que temos, com o mesmo sorriso alarve com que inaugurámos 10 estádios de futebol.
A minha filha tem cinco anos. Para o ano vai para escola e comecei à procura de uma. Pretendo colocá-la numa escola internacional. O curriculum não é o nosso, a língua não é a nossa, a exigência não é a nossa. Espero que continue a sua formação (licenciatura, curso técnico … o que quiser) noutro país.
Mas aquilo que mais desejo é que ela, depois, não queira voltar. E que possa, um dia, fazer a sua vida num país a sério.
AR

terça-feira, agosto 09, 2005

TV Rural

A TV Rural era um dos maiores pesadelos dos meus fins-de-semana. A programação a sério - ou seja, a de que eu gostava - só começava depois. E aquilo nunca mais acabava. Um dia ouvi falar de Kiwis. Não fazia a mínima ideia do que eram. Mas lá estavam uns senhores de boina, colete de lavrador e camisa aos quadrados, a falar do risco que era lançar uma nova fruta no mercado, mas como era boa e tal. E eu a pensar 'Mas que raio será um Kiwi?'. Alguns anos depois, os Kiwis seriam fruta corrente.
Mas a TV Rural era apenas um de um grupo de programas que me atormentavam. A ela juntava-se um programa do Vitorino Nemésio, um padre a falar da Rê Tê Pê, as secas das "Conversas em Família", que passavam muitas vezes antes das transmissões das Corridas de Touros, onde o Ricardo Chibanga toureava de joelhos, e a Tropicália, que passava sempre antes do Cinema de Animação, do Vasco Granja.
Há alguns anos, Sousa Veloso entrou na mesma carruagem de Metro onde eu me deslocava. Estava velho, com a peruca escura e as sobrancelhas, ainda enormes, já muito brancas. Senti uma certa nostalgia da TV Rural. E de o ouvir despedir-se, como bem lembrou a Sofia, 'com muita amizade'. A Televisão era, de facto, outra coisa. Até certo ponto mais íntima. E feita por gente que percebia do que falava.
E eu era bastante mais novo ...
AR

Ah ... e tal ... não






























AR

segunda-feira, agosto 08, 2005

ah!, então está bem...


CC

Big Boys, Big Guns

Eu não tenho, por regra, complexos históricos. História é História, já passou, às vezes repete-se, outras não. A vida é assim.
Vem isto a propósito do post abaixo, do CC, e dos comentários que lá foram feitos.
Vejamos. Os EUA utilizaram a Bomba Atómica na II Guerra Mundial e isso matou muita gente. Pois foi. Para o caso de não se ter reparado, as guerras costumam matar gente. As Guerras Mundiais, exactamente pela sua dimensão, costumam matar mesmo muita gente. A utilização das armas nucleares é apenas uma questão de escala. Matam mais, destroiem mais. As duas que foram usadas mataram muita gente, não apenas ali, naquele momento, mas também depois, dos que acabaram por morrer por causa da radiação e das doenças que daí resultaram. Mas, também, acabaram com a guerra no Pacífico em cerca de 6 dias. Para quem não se recorda, a Guerra acabou três dias depois do lançamento da bomba atómica em Nagasaki, com a capitulação incondicional do Japão. Eu não tenho dúvidas em afirmar que teria tomado a mesma decisão que tomou o Presidente dos EUA, naquele momento e naquele contexto, perante a eminência de quebrar o esforço de guerra japonês e com isso poupar a vida aos soldados do meu país.
Não me parece, portanto, que a questão se coloque nos termos que por aí tenho lido, dos Bons e dos Maus. Na querra, simultâneamente, são todos Bons e Maus. Depende apenas do lado pelo qual se oberva a coisa. Com certeza os alemães se achavam os bons e os japoneses também, e os russos, e os italianos, e os romenos, e os ingleses, e os americanos, e ... e ... e ...
Na guerra não há bons e maus: há morte e destruição. Normalmente quem mata e destrói mais ganha. Ponto final.
Eu acho que, assim como assim, foi melhor terem sido os do nosso lado (pelo menos, a partir de certa altura, começaram a ser esses os do nosso lado) a ganhar. Eu, por exemplo, sou etnicamente negróide, pela classificação de cientistas alemães, feita à época, sobre o nosso país. Era para eliminar. Aliás, provavelmente nem estaria aqui, porque os meus pais não teriam tido a possibilidade de me gerar.
Digamos que não me incomoda nada que os americanos, a quem também não incomoda particularmente que eu seja negróide, tenham largado duas bombas atómicas em cima de quem se incomodava com o facto de eu ser negróide. Nem me incomoda particularmente que os ingleses tenham arrasado umas quantas cidades alemãs, aliás no seguimento de tentativa semelhante feita pelos alemães.
Para avivar as memórias, não foram os malandros dos americanos, nem dos ingleses, que por acaso começaram essa guerra. Felizmente, pelo menos para mim, foram eles que acabaram com ela.
Incomodam-me as guerras. É verdade. Mas quando começam, já se sabe o que vai acontecer. Com bombas ou sem elas. Com muitos mortos ou poucos.
E aquilo que se deve pretender não esquecer, todos os anos, em Hiroshima e Nagazaki, em Treblinka e Aushwitz, na Sibéria ou na Manchúria, é que a Guerra deve ser evitada. Qualquer uma.
AR

sábado, agosto 06, 2005

barbarism begins at home

Passam hoje 60 anos sobre o lançamento da primeira bomba atómica, um belo e heróico acto terrorista praticado pelo lado bom da História, que causou o maior número de mortos (mais de 90% dos quais civis) desde sempre: o equivalente a 45 vezes o 11 de Setembro.

Como tinha sido engano (os rapazes pensaram que Hiroshima era uma base militar e não uma cidade), 3 dias mais tarde outra cidade é alvo da guerra nuclear: Nagasaki. Resultado: mais 70.000 mortos ou desaparecidos.

Não faz mal, pois eram todos japoneses, mesmo as mulheres e crianças. E, além de teimosos, eram uma bocado atrasados e fanáticos. No final, nós ganhámos a guerra, o que acabou por levar o desenvolvimento e económico, social e político ao Japão (e à Alemanha).

Tudo está bem quando acaba bem.
CC

sexta-feira, agosto 05, 2005

momento piegas


Os posts que antecedem mostram bem porque os demais elementos deste blog são não apenas geniais, mas também das (poucas) pessoas por quem tenho muita amizade e incondicional admiração - há quase vinte anos (eles), ou há um bocadinho menos (ela). Que Deus nos dê muitos anos para que juntos percorramos a estrada dos tijolos amarelos.
LR

As caricas

As minhas recordações dos Verões em Coimbra são sempre de muito calor. As tardes de Agosto e Setembro eram quentes, abafadas. Antes das cinco ou seis da tarde não saíamos à rua, o que também não era dramático, já que no fresco das casas nos entretíamos em longos jogos de Monopólio que terminavam, inevitavelmente, com a falência da Banca.
Ao fim da tarde, o primeiro lugar de poiso costumava ser o muro da casa dos Pitas, família endinheirada dos Olivais, que ali tinham um dos palacetes mais bonitos da cidade, grande e quadrado, sob a sombra de árvores enormes e com as paredes de dentro forradas a madeira, mesmo o imenso Hall de entrada, que se via da rua quando a porta principal, por acaso, se encontrava aberta.
O muro era baixo e largo, construído num granito razoavelmente afagado, e poiso ideal para gaiatos dos seus oito ou nove anos, que ali se sentavam chupando os gelados de sumo, caseiros, comprados no Vítor a um escudo cada um, e que tinha para além da mercearia, e de portas meias com esta, uma tabacaria. Fazia-nos então companhia larga carga de caricas. Não me consigo lembrar onde as arranjávamos. Mas recordo-me que eram sempre muitas.
Ora, as caricas tinham um destino certo: a linha do eléctrico. Ali mesmo à frente parava o 3, que ia dos Olivais à Baixa, ao Largo da Portagem, naquele calmo remanço que era o Verão em Coimbra.
Aguardávamos calmamente a passagem do eléctrico, falando não sei bem de quê, mas certamente das coisas importantes de quem tem aquela idade, e no fim íamos recolher as caricas esmagadas, que passávamos a pente fino com o olhar de mestres entendidos no assunto e, logo ali, fazíamos a triagem entre as que necessitavam de nova passagem e as que tinham atingido a perfeição do pleno e total esmagamento.
Depois, lá íamos para o campo dos Olivais, onde nos aguardava o jogo do fim do dia, com a consciência e a satisfação do trabalho bem feito.

AR

quinta-feira, agosto 04, 2005

sonho com

Edward Hopper


mar frescor sombra brisa molhado ameno vento cheiro maresia

Sofia

quarta-feira, agosto 03, 2005

prlba pa para.




Grande concerto dos Pop Dell'Arte na passada quarta-feira. Uma semana depois ainda recordo com agrado as melhorias do João Peste. Está com um aspecto muito saudável, com energia q. b. para ser o frontman de um concerto memorável a todos os níveis. Recuperou memórias e deixou na retina e nas trompas de Eustáquio muito boas recordações.




Notava-se na audiência a clivagem entre os espectadores que tiveram a sorte de ter crescido nos anos 80, com as músicas que hoje em dia se ouvem em repeat nas rádios, e que se agitavam nas cadeiras do Fórum Lisboa ao som do Rio Line, do Querelle, do Turin Welisa Strada, do Poligrama, do O Amor É Um Gajo Estranho, dos Sonhos Pop, e mesmo dos menos antigos All You Need Is Money, Zip Zap Woman ou My Funny Ana Lana, ou o quase recente So Goodnight; e os jovens que ouviam tudo pela primeira vez ao vivo, quedos, encantados e cheios de inveja da sapiência das experiências vividas pelas gerações mais maduras.
Cheios de vigor, os Pop Dell'Arte chegaram mesmo a tocar dois temas inéditos, Apollo e Noite de Chuva, para acabarem em grande com o mítico Esborr.

Não sei o que dizer mais, não sei o que fazer. Como fã, ainda tenho um sonho a 2 onde entram os Pop Dell'Arte, recuperados com a graça divina. Como eu, nestes dias serenos. E eu não sei viver sem ti, estou preso neste elevador. ;)




CC

terça-feira, agosto 02, 2005

Et pour cause ...

Já lá vão uns anos quando li, pela primeira vez, uma edição dedicada à poesia erótica de Bocage. Na realidade, era dedicada à poesia, como dizia o título, erótica, burlesca e satírica. Devo dizer que, tirando um poema dedicado a uma presumida amante do poeta (nunca percebi se tinha sido ou não) e que se chemava, não me falhe a memória, A Manteigui, o resto da sua poesia erótica era vagamente entediante. Achei eu.
Vem isto a propósito deste link, que recomendo vivamente para quem aprecie o estilo mais brejeiro do poeta de Setúbal, embora se trate de obra contemporânea. Não o visitem, peço, as almas mais púdicas. Às outras, desejo um alegre mergulhar no que de melhor vi, nos últimos anos, o vernáculo português oferecer.
AR

segunda-feira, agosto 01, 2005

a vida dele dava uma porrada de filmes


Fez trinta anos que morreu Otto Skorzeny.
LR

Ehoooo!




por isso comemoro eu. Parabéns ao CC, ao AR e ao LR.

Sofia
Qualquer semelhança com a coincidência é pura realidade.

Terra de Agosto

A Terra da Alegria está fechada durante o mês de Agosto. Está uma breve antologia do que se publicou neste quase ano e meio. Nela constam textos já publicados da autoria de todos os membros e colaboradores externos da Terra da Alegria, com um bónus - um original do Miguel Marujo.
CC

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