terça-feira, agosto 19, 2003

Em defesa da Terra plana

Tenho para mim que a Terra deveria ser plana. Nós íamos andando e, a certa altura, acabava-se. Assim, tal e qual. Normalmente deveria acabar no mar. Haveria um pouco de mar e depois uma imensa catarata tombaria e desapareceria no imenso negro do Universo. Acho esta ideia muito mais romântica e apelativa.
Imagino toda a sorte de criaturas mitológicas suspensas num limbo para além da terra e do mar, não necessariamente ameaçadoras mas, ainda que o fossem, seguramente belas.
As estrelas seriam aí mais brilhantes, mais próximas de nós, e as constelações dançariam ao compasso da música feita pela água a caír no infinito.
Ao mesmo tempo acho que a Terra seria mais temporal. O eterno retorno que o círculo permite é, simultaneamente, intemporal porque sempre se está. Nunca se chega verdadeiramente a partir porque fatalmente sempre se volta ao princípio, ao ponto de partida.
Julgo que esta noção de intemporalidade é perfeitamente nociva. O permanente voltar a estar significa a permanente não assunção das responsabilidades porque tudo volta a ser. Tudo é infinitamente redimível.
Muitas vezes me perguntam se não gostava de poder viver para sempre. Respondo sempre que não. A náusea da eternidade é francamente mais forte do que o desejo da própria eternidade. O vício do infinito é, simultaneamente, o vazio do infinito.
Prefiro, definitivamente, a Terra plana.
AR

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