sexta-feira, agosto 22, 2003

mais «desgosto artificial»

A propósito do nosso post «desgosto artificial», de 20 de Agosto, recebemos, por e-mail, este comentário, que publicamos, já devidamente autorizado pela autora, bolseira portuguesa na Universidade da Virgínia (EUA):
«Agora um comentário ao post «desgosto artificial». Pois. Tem muita razão, o CC. É que aqui já se atingiu a tua premonição da perda dos sentidos gustativos por parte da população em geral.
Há uma imensidão de adultos que se alimentam como crianças de 5 anos, se as deixamos comer o que quiserem e quando quiserem. É muito triste. E, claro está, há o pormenor de o metabolismo de um adulto ser bastante distinto de o de uma criança.... O que os meninos assimilam para crescer, os graúdos acumulam em forma de gorduras, localizadas particularmente no abdómen. Há também o pormenor de que os tais sabores primários são os mais reconfortantes a nível mental.
Claro que, nesta sociedade individualista e solitária, as pessoas procuram conforto mais facilmente na comida do que nos amigos ou familiares. E então lá vai de "binge" (eu não sei dizer isto em português) em bebidas açucaradas, batatas fritas, hambúrgueres, chocolatinhos e o que mais.
Mas... agora eu discordo do CC. Eu não acho que quem deva ser julgado sejam as cadeias de fast-food. Os indivíduos tem de ser considerados e tratados como adultos, responsáveis pelos seus actos e escolhas. Esta é uma sociedade na qual cada vez mais há uma desresponsabilização dos indivíduos. Caminha-se para um mundo onde tudo é escolhido para nós e não por nós. As pessoas não querem ter de pensar, tomar decisões e assumir os seus erros. Isso é um caminho muitíssimo errado.
Mas há um pormenor. Aqui neste país, é quase como se pudessemos distinguir os menos abastados pelo volume corporal. Eu explico. Ao contrário do que (ainda) é o caso em Portugal, aqui os alimentos baratos são os hambúrgueres, os congelados, os enlatados, as bebidas gasosas. Uma alimentação saudável, incluindo vegetais e fruta fresca, carne e peixe frescos, pão (pão mesmo, não aquela substância branca, doce e esponjosa que se vende em sacos de plástico, às fatias), água (!?) etc., é um luxo ao qual nem todos se podem dar. E daí que seja quase um carimbo que se põe nos pobres - eles distinguem-se porque são gordos.
Foi a isto que se chegou, no primeiro mundo os pobres não morrem à fome, morrem de obesidade. Então quem deveria ser julgado, não será talvez este governo? Não são eles os responsáveis pelos preços astronómicos dos alimentos não-processados? Uma alimentação saudável não é um bem de primeira necessidade?
AR»
CC

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