quinta-feira, agosto 14, 2003

A propósito do Dogma

Devo confessar que não tenho qualquer predilecção pelas grandes religiões monoteístas, o que me liberta para tecer considerações descomprometidas.
Neste caso, não resisto a comentar a última intervenção do meu amigo CC, a propósito do feriado do 15 de Agosto e do Dogma da Assunção de Maria ao Céu.
Eu tenho muita dificuldade em compreender o cristianismo e a sua teologia. Primeiro, porque a ideia de um Deus hermafrodita, que se cria a si próprio, não necessita de uma deusa para ter um filho, que é pai de si mesmo porque é o seu próprio filho e, para além disso, é espírito que ilumina os outros dois, que são ele próprio e que, portanto, se ilumina a si próprio, é algo que me deixa deveras perplexo (para já não falar nas questões éticas e morais que se levantam com esta confusão de paternidades ...). Segundo, porque sendo Deus, aparentemente, hermafrodita, não compreendo a necessidade da existência de Maria na mitologia cristã. Porque afinal, Deus não precisava dela. Já tinha feito o trabalhinho todo, não é?
Parece-me também, que a história da assunção, seja a do filho do pai seja a da mãe do filho do pai dá um jeito danado, porque assim quem viesse a seguir nunca poderia investigar se eles tinham existido mesmo, já que se foram embora e portanto não deixaram rasto neste mundo. Pois ....
A não ser que Maria seja, afinal, a cristianização da parte feminina da divindade. Eu explico. As religiões pré-cristãs tinham a sua dose de deuses e deusas, o que estava muito bem porque assim sabia-se mais ou menos como é que eles íam aparecendo, porque eram mais ou menos filhos uns dos outros. Nas tradições celtas que se perpetuaram até hoje sob os mais diversos disfarces, existe um Deus e uma Deusa, sendo que a Deusa foi sempre mais importante do que o Deus (que aliás morre a certa altura para renascer a seguir, o que significa que essa história de Jesus ter derrotado a morte de vez tem muito que se lhe diga, mas passemos adiante ...). Parece-me (desculpem-me os cristãos) que Maria não é mais do que a adaptação da figura da Deusa pré-cristã, que era ao mesmo tempo mãe e jovem (enfim, vai envelhecendo segundo o ciclo da lua, mas ignoremos agora esse pormenor para facilitar a fluidez do raciocínio). Pelo que não me entusiasma particularmente esta questão da assunção.
E fica por aqui a questão teológica.
Quanto ao feriado. Bom, eu gosto muito do feriado. E apesar de religiosamente ele não me dizer nada, concordo com ele porque de mais um dia de descanso se trata. Aliás, e considerando que o Estado português deixou de há muito de ser 'oficialmente' católico, exorto daqui os nossos governantes a incluirem no nosso calendário as celebração judaicas e muçulmanas. Com os respectivos feriados, claro.
Finalmente, também acho que a igreja foi, durante muitos centos de anos um travão ao progresso da humanidade e prejudicial à liberdade do indivíduo. Foi, ponto final. Em caso de dúvida, perguntemos a um senhor chamado Galileu (só para exemplo, claro!). E se tivesse hoje a força que teve noutros tempos sê-lo-ía também. Vemos isso diariamente em questões tão diferentes como o sexo seguro ou os progressos da medicina e da ciência na área da investigação genética e da clonagem.
Cumprimentos.
AR

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