sexta-feira, agosto 08, 2003

resposta a Miguel Vale de Almeida

Diz Miguel Vale de Almeida: «a nota negativa a sério deve ir para o Inquisidor-Mor da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), Cardeal Ratzinger. A recente divulgação de posiçoes contra uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo é um texto jesuiticamente absurdo. A suposta preocupação com a sociedade e a família, argumentada numa retórica que pretende ser racional, baseia-se, afinal, em irracionalidades como "direito natural" e "criação divina". Não quero falar nem de liberdade religiosa nem de fé. Aceito a primeira e percebo a segunda, enquanto antropólogo. Mas como cidadão, acho que é altura de tornar a dizer "basta" a estes absurdos (como o tentaram fazer iluministas, jacobinos, republicanos e marxistas). Não através da proibição e da perseguição, mas através da distinção clara entre o que é a coisa pública e o que são as igrejas. Não se pode, simplesmente, dialogar a sério com quem apresenta os seus argumentos sobre bases incompatíveis com aquelas com que a coisa pública se organiza. Acho que as coisas boas da religião (na opinião dos crentes), como a ética, certos valores, etc., existem também no universo da ética laica. Não acresentam nada que este não tenha. Mas que dizer das coisas que considero más - como a irracionalidade, a explicação divina de coisas que se explicam social e historicamente, ou o dogmatismo? São inadmissíveis, porque retiram liberdade às pessoas, tolhem a sua inteligência e reprimem o exercício de direitos - exercício esse que não poria em causa de modo algum os direitos de outros. (...) Quando Ratzinger diz o que diz sobre homossexualidade, ele nã está a manifestar uma posição de fé, neutra e equivalente a tantas outras opiniões. Está, isso sim, a promover a exclusão (com alguns truques retóricos sobre a "tolerância" face aos homossexuais) e isso é inadmissível numa sociedade baseada nos direitos humanos - e não em qualquer absurdo, irracional e obscurantista "direito natural"».

Respondi-lhe isto:
«Caro MVA
Sabemos que o recurso da argumentação ad hominem é próprio de quem lhe falta outro tipo de pensamento, mas, como sei que não é o caso, tomo a liberdade de me reportar ao pouco que resta deste post.
Na ânsia de rebater argumentos de que não gosta, parece esquecer de os ler.
Por que razão é o direito natural uma "irracionalidade"? E a ética e a moral, quando diferem da sua, também o são? E, se sim, há também que lhes dizer "basta"? E como? Coartando-lhes a liberdade de expressão? (Parece-me que há mais inquisidores do que parece à primeira vista.)
V. Exa., por quem tenho alguma admiração intelectual (e com quem até já almocei, numa esplanada do Funchal) - permita-me que o diga - não leu o texto que pretende rebater.
Aconselho a sua leitura aqui, por exemplo, e depois - mas só depois - uma resposta ao que lá vem escrito - e não ao que não está lá.
Obrigado.
CC»

Fica aqui o registo.
CC

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