quinta-feira, setembro 11, 2003

O abuso da indemnização

A Igreja Católica, nos Estados Unidos, chegou a acordo com as vítimas de abusos sexuais levados a cabo por padres daquela confissão religiosa durante largos anos. Abusos esses com conhecimento, ao que sabe, da hierarquia, que abafou sempre que possível esses acontecimentos.
O acordo, ao que foi divulgado, implica o desembolso de qualquer coisa como €85 milhões, recebendo cada um dos abusados entre €80.000 e €300.000.
Devo confessar que tudo isto me deixou espantado, estarrecido e revoltado.
Espantado, porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Estarrecido porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro. Revoltado porque questões deste tipo se resolvem com dinheiro.
Vejamos.
Eu tenho para mim que quando falamos de casos de abuso sexual estamos a falar de questões que afectam o foro íntimo e psicológico do indivíduo. Que o afectam, provavelmente, durante toda a vida e que, em algumas situações, o impedem de levar uma vida normal. Nestas situações, um aspecto fundamental para ajudar a ultrapassar as situações que possam eventualmente surgir é o julgamento e a condenação do abusador.
Quando o dinheiro vem resolver o problema pergunto-me se estamos perante um caso de abuso ou de prostituição. Quando o dinheiro, aparentemente, faz desaparecer o crime e a vítima deixa de se preocupar com o castigo do agressor, porque este pagou, então com direito continuaremos a falar em vítima? Numa situação destas, como é que se pode permitir que haja acordo entre as partes e se pode aceitar que os criminosos deixem de ser levados a julgamento e, determinando-se a sua responsabilidade, deixem de ser condenados e de pagar pelos crimes cometidos?
Será que o processo 'Casa Pia' terminará, também, com um acordo monetário?
AR

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