terça-feira, setembro 23, 2003
Por um debate sobre a integração
A recente cimeira de Berlim veio relançar (como se não se estivesse em plena discussão do assunto) a questão da construção europeia, do equilíbrio de poderes dentro da União, da Constituição e por aí fora.
Não gostaria de deixar passar esta oportunidade sem lançar, também, algumas achas para a fogueira.
Não partilho, de todo, das posições eurocépticas. O mundo mudou. Mudou muito. E mudou tanto, que a velha questão da soberania já não se coloca. Continuar a falar em independência nacional, no mundo em que vivemos hoje, é o mesmo que gritar que as caravelas não devem partir do Tejo. Já não somos independentes há muito. Provavelmente desde 1580. Não partilhando da opinião daqueles que dizem hoje que 1640 terá sido um erro, não consigo compreender os que vociferam contra a União e a perda da independência e da soberania nacionais. Portugal é um país economicamente atrasado, socialmente atrasado, no que diz respeito à educação é atrasado e militarmente é ainda mais atrasado. Importa o que come, o que bebe, os carros que nos permitem andar de um lado para o outro, o combustível que queimamos, a energia que consumimos, e por aí fora. Alguém me diga, por favor, como é que somos independentes...
As ideias do país voltado para o mar e da nação atlântica não são mais do que mitos. Não temos capacidade económica para competirmos internacionalmente com os países mais desenvolvidos, nem temos capacidade militar para projectar poder e levar a cabo uma efectiva política externa. Alguém me diga, por favor e mais uma vez, como é que somos independentes...
Daqui resulta que, ironicamente, a nossa única alternativa de sobrevivência é a nossa integração sem hesitações no espaço comunitário. Porque, curiosamente, a União representa a única forma de as comunidades mais pequenas, como a portuguesa, poderem influenciar as maiores, como a Alemanha ou a França.
Pertencemos hoje a um espaço económico que se tornará, muito em breve, o terceiro maior do mundo, logo atrás da China e da Índia, em número mas seguramente o maior em capacidade económica. Detemos uma moeda que é credível e forte em termos internacionais (alguém ainda se lembra dessa coisa a que se chamava ‘escudo’?). Uma parte do caminho está, portanto, percorrido.
O que nos falta percorrer (sem dúvida caminho difícil) é a via política. Não será fácil. Mas é, a meu ver, a única solução para podermos enfrentar o futuro. A Constituição Europeia, passo importante na criação de uma verdadeira comunidade política, deve ser vista não como uma ameaça às soberanias (há quanto tempo terão desaparecido?) mas sim como uma oportunidade para avançarmos para a criação de órgãos comunitários verdadeiramente representativos, não já dos interesses dos Estados, mas sim dos interesses dos cidadãos. Dos cidadãos europeus, que somos todos, de Lisboa a Varsóvia (ou Moscovo?). Esse é o caminho.
A identidade dos povos não desaparece com a sua integração. Espanha é um bom exemplo disso. Insistir na tecla da soberania e do passado glorioso é insistir em não encarar a realidade e não perceber que o futuro está à frente, não atrás.
AR
Não gostaria de deixar passar esta oportunidade sem lançar, também, algumas achas para a fogueira.
Não partilho, de todo, das posições eurocépticas. O mundo mudou. Mudou muito. E mudou tanto, que a velha questão da soberania já não se coloca. Continuar a falar em independência nacional, no mundo em que vivemos hoje, é o mesmo que gritar que as caravelas não devem partir do Tejo. Já não somos independentes há muito. Provavelmente desde 1580. Não partilhando da opinião daqueles que dizem hoje que 1640 terá sido um erro, não consigo compreender os que vociferam contra a União e a perda da independência e da soberania nacionais. Portugal é um país economicamente atrasado, socialmente atrasado, no que diz respeito à educação é atrasado e militarmente é ainda mais atrasado. Importa o que come, o que bebe, os carros que nos permitem andar de um lado para o outro, o combustível que queimamos, a energia que consumimos, e por aí fora. Alguém me diga, por favor, como é que somos independentes...
As ideias do país voltado para o mar e da nação atlântica não são mais do que mitos. Não temos capacidade económica para competirmos internacionalmente com os países mais desenvolvidos, nem temos capacidade militar para projectar poder e levar a cabo uma efectiva política externa. Alguém me diga, por favor e mais uma vez, como é que somos independentes...
Daqui resulta que, ironicamente, a nossa única alternativa de sobrevivência é a nossa integração sem hesitações no espaço comunitário. Porque, curiosamente, a União representa a única forma de as comunidades mais pequenas, como a portuguesa, poderem influenciar as maiores, como a Alemanha ou a França.
Pertencemos hoje a um espaço económico que se tornará, muito em breve, o terceiro maior do mundo, logo atrás da China e da Índia, em número mas seguramente o maior em capacidade económica. Detemos uma moeda que é credível e forte em termos internacionais (alguém ainda se lembra dessa coisa a que se chamava ‘escudo’?). Uma parte do caminho está, portanto, percorrido.
O que nos falta percorrer (sem dúvida caminho difícil) é a via política. Não será fácil. Mas é, a meu ver, a única solução para podermos enfrentar o futuro. A Constituição Europeia, passo importante na criação de uma verdadeira comunidade política, deve ser vista não como uma ameaça às soberanias (há quanto tempo terão desaparecido?) mas sim como uma oportunidade para avançarmos para a criação de órgãos comunitários verdadeiramente representativos, não já dos interesses dos Estados, mas sim dos interesses dos cidadãos. Dos cidadãos europeus, que somos todos, de Lisboa a Varsóvia (ou Moscovo?). Esse é o caminho.
A identidade dos povos não desaparece com a sua integração. Espanha é um bom exemplo disso. Insistir na tecla da soberania e do passado glorioso é insistir em não encarar a realidade e não perceber que o futuro está à frente, não atrás.
AR