segunda-feira, setembro 08, 2003
Velha Europa, Velhas Ambições
No Contra-a-Corrente vem um artigo interessantíssimo, publicado no Sábado passado, sobre a Guerra do Iraque e a posição da 'Velha Europa' e dos Estados Unidos. Não partilho de todo da posição lá expressa e não gostaria de deixar passar esta ocasião para deixar o registo de outra opinião.
A questão iraquiana apresenta-se, cada vez mais, como uma 'case study' a acompanhar com atenção. De facto, ela demonstra que os processos de procura da hegemonia mundial estão fadados, invariavelmente, ao fracasso. Senão vejamos.
A Guerra do Iraque é, acima de tudo, um passo num complicado processo de procura da hegemonia global através do controlo dos pontos estratégicos mais importantes, sejam estes geograficamente estratégicos ou economicamente estratégicos. Como se conclui sem grande dificuldade, o Iraque é importante porque detém, sozinho, cerca de 10% das reservas mundiais de petróleo. Se os juntarmos aos 10% do Kuwait ─ aliado grato dos Estados Unidos ─ e aos 20% da Arábia Saudita ─ aliado menos colaborante do que há alguns anos atrás ─ estamos a falar, só ali, de cerca de 40% das reservas mundiais de petróleo.
Daqui resulta que o combate ao terrorismo é um argumento que não procede, como não procede o argumento das armas de destruição maciça. De facto, terrorismo no Iraque existe agora e apenas agora o país está aberto à livre circulação de todo e qualquer caçador de ocidentais. E quanto às armas de destruição maciça estão, como sabemos, escondidas no deserto. Tão bem escondidas que, aparentemente, nem os próprios dirigentes iraquianos detidos pelos Estados Unidos sabem onde elas estão.
Na senda dessa política de hegemonia global, os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque. Guerra curta e fácil mas, como se adivinhava, paz difícil. Há bem pouco tempo, os dirigentes norte-americanos e britânicos diziam a quem os queria ouvir que a ONU, no Iraque, só em missão humanitária. Agora, que infelizmente já morreram mais soldados americanos e britânicos do que no período de guerra, a posição de Washington mudou, e deseja-se já uma força multinacional sob os auspícios da ONU ─ e sob comando americano, evidentemente ─ para que os custos da paz não recaiam sobre os fautores da guerra.
Achei a seu tempo que bem faziam a França e a Alemanha em não participarem no aventureirismo do pior e mais ignorante presidente americano de que me lembro (para o registo, o primeiro de que me lembro foi Carter). Faz bem a 'Velha Europa', sem dúvida cínica mas seguramente sábia, em não querer suportar os custos, em recursos financeiros e humanos, de uma situação que não procurou e cujos dividendos obviamente não colheria.
AR
A questão iraquiana apresenta-se, cada vez mais, como uma 'case study' a acompanhar com atenção. De facto, ela demonstra que os processos de procura da hegemonia mundial estão fadados, invariavelmente, ao fracasso. Senão vejamos.
A Guerra do Iraque é, acima de tudo, um passo num complicado processo de procura da hegemonia global através do controlo dos pontos estratégicos mais importantes, sejam estes geograficamente estratégicos ou economicamente estratégicos. Como se conclui sem grande dificuldade, o Iraque é importante porque detém, sozinho, cerca de 10% das reservas mundiais de petróleo. Se os juntarmos aos 10% do Kuwait ─ aliado grato dos Estados Unidos ─ e aos 20% da Arábia Saudita ─ aliado menos colaborante do que há alguns anos atrás ─ estamos a falar, só ali, de cerca de 40% das reservas mundiais de petróleo.
Daqui resulta que o combate ao terrorismo é um argumento que não procede, como não procede o argumento das armas de destruição maciça. De facto, terrorismo no Iraque existe agora e apenas agora o país está aberto à livre circulação de todo e qualquer caçador de ocidentais. E quanto às armas de destruição maciça estão, como sabemos, escondidas no deserto. Tão bem escondidas que, aparentemente, nem os próprios dirigentes iraquianos detidos pelos Estados Unidos sabem onde elas estão.
Na senda dessa política de hegemonia global, os Estados Unidos decidiram invadir o Iraque. Guerra curta e fácil mas, como se adivinhava, paz difícil. Há bem pouco tempo, os dirigentes norte-americanos e britânicos diziam a quem os queria ouvir que a ONU, no Iraque, só em missão humanitária. Agora, que infelizmente já morreram mais soldados americanos e britânicos do que no período de guerra, a posição de Washington mudou, e deseja-se já uma força multinacional sob os auspícios da ONU ─ e sob comando americano, evidentemente ─ para que os custos da paz não recaiam sobre os fautores da guerra.
Achei a seu tempo que bem faziam a França e a Alemanha em não participarem no aventureirismo do pior e mais ignorante presidente americano de que me lembro (para o registo, o primeiro de que me lembro foi Carter). Faz bem a 'Velha Europa', sem dúvida cínica mas seguramente sábia, em não querer suportar os custos, em recursos financeiros e humanos, de uma situação que não procurou e cujos dividendos obviamente não colheria.
AR