segunda-feira, outubro 13, 2003

Ausência

Uma amiga minha, que insiste em se envergonhar e, por isso, pretender o anonimato, deu-me autorização, depois de insistência, para 'publicar' um texto da sua autoria. Segue.
AR

«O meu corpo está cansado da tua ausência. Já não sabe se é a noite que sucede ao dia ou o dia que sucede à noite. As minhas mãos estão cansadas de viver, de esperar sempre pelo regresso.
O meu corpo está cansado de palavras, quer falar antes com a força do erotismo, quando é o corpo que se move para responder ao teu. Quando, no fim, se encontram, os olhos não vêem senão com a luz do desejo, a boca sente que não há nada a dizer, está tudo dito, há que agir agora.
E então, começa pelo cheiro, e depois com a proximidade vem aquela sensação de calor, e o coração bate mais depressa e o calor aumenta e quando por fim te toco, já não é a pele que sinto, são todos os sentidos num só. Como se não houvesse mais mundo além daquele momento, como se nada mais tivesse importância.

Amas-me, sem dúvida, mas não é isso que o teu corpo diz; o teu corpo diz que me quer, que me deseja, que é no meu corpo que se esgota e se encontra de novo.

E para que a vida continue para os dois, o calor do meu corpo percorre a distância que o separa do teu e, tocando ao de leve, diz-te que é hora de se encontrarem de novo».

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