quinta-feira, outubro 09, 2003
Cooperação
Axelrod escreveu há uns anos um livro interessantíssimo intitulado “The Evolution of Cooperation”. Aí Axelrod explicava que os actores, num determinado cenário, tendem a cooperar uns com os outros se souberem que existe a hipótese de interagirem uns com os outros mais do que uma vez. Ou seja, se dois actores interagirem e souberem que não o voltarão a fazer tenderão menos a cooperar do que se tiverem a percepção contrária.
Posto isto, e para o raciocínio que se segue assentemos nesta base: os actores A e B cooperam entre si e cada um obtém uma compensação numérica de 3; os mesmos actores não cooperam e cada um obtém uma compensação numérica de 1; dos mesmos actores A coopera e B não – agindo de forma oportunista - , B obtém uma compensação numérica de 5 enquanto A obtém 0.
Daqui resulta que se os actores agirem de forma oportunista nas suas interacções com outros que cooperem maximizam os seus ganhos. Se os seus interlocutores também não cooperarem então os ganhos serão equivalentes a 1 para ambos. Pode-se concluir, assim, que em interacções esporádicas, não cooperar é mais vantajoso do que cooperar.
Os resultados alteram-se quando o cenário muda: quando as interacções não são esporádicas. Aí, a não cooperação dar-lhe-á vantagem numa primeira interacção mas numa segunda não haverá cooperação, enquanto que os que cooperam entre si desde o início tenderão a cooperar no futuro. Daqui resulta que, a prazo, os oportunistas tenderão a ser ultrapassados pelos que cooperam. Exemplifiquemos: A coopera na primeira interacção e manterá com o seu interlocutor, nas interacções seguintes, o que aquele fizer na primeira; B age da mesma forma que A; C não coopera. Assim, nas primeiras interacções entre eles os resultados serão: A e B = 3 para cada, A e C = 5 para C e 0 para A, B e C = 5 para C e 0 para B. C surge destacadamente à frente, com 10, enquanto A e B surgem com 3. No entanto, numa segunda interacção, os resultados serão: A e B = 3 para cada, A e C = 1 para cada, B e C = 1 para cada. Temos então que A e B conseguiram nesta interacção 4 enquanto C conseguiu apenas 2, com acumulados de A = 7, B = 7 e C = 12. É claro que com a continuação das interacções, A e B ultrapassarão C. Conclui-se, portanto, que num ambiente em que a interacção seja possível mais do que uma vez a cooperação entre os sujeitos é mais produtiva do que as acções oportunistas.
Evidentemente, que este cenário pode ser alterado significativamente no número dos que cooperam e dos que não o fazem. Mas os resultados apresentados por Axelrod apontam para um predomínio no médio/longo prazo para os cooperadores num ambiente em que não sejam mais do que 4% ou 5% do total.
Passemos agora da teoria para a prática.
O Sistema Internacional é um sistema razoavelmente fechado, no sentido em que o número de actores estaduais é finito, sendo razoavelmente grande a possibilidade não só de interagirem entre si mas de o fazerem de forma continuada. Os Estados com comportamentos oportunistas tendem a ser “conhecidos” e a levar a cabo poucas interacções com outros Estados. Por seu turno, as interacções entre os que procuram cooperar tendem a ser proveitosas e a prolongarem-se no tempo. O exemplo da União Europeia é claro quanto às vantagens da cooperação. Outros casos, como o do MERCOSUL, embora este numa fase menos avançada do que a da Europa, podem ser apontados como apresentando as vantagens da cooperação.
Mas os comportamentos que consubstanciam um abuso de posição são também comportamentos oportunistas. E como tal tendem a ser tratados pelos outros Estados do sistema. A situação actual dos Estados Unidos consubstancia um comportamento oportunista por abuso de posição, embora possa ser justificado em termos de análise realista.
Vem isto a propósito da actual situação no Iraque. Tendo acompanhado com alguma atenção e interesse as “nuances” da posição de Washington nas últimas semanas, constato que de uma posição “ONU para apoio humanitário” se passou para uma posição “ONU para acompanhar a transição e organizar eleições e um processo constitucional”. De uma posição “Só nós e alguns poucos” passou-se para uma posição de “a comunidade internacional deve colaborar na reconstrução e pacificação do Iraque”. Mas também tenho reparado na firme relutância dessa mesma Comunidade Internacional em se meter no “vespeiro” que é o Iraque e da ONU em participar activamente no processo, ficando com o fardo mas não tirando o proveito.
Aliás, a posição de “oportunismo” da actual administração norte-americana não se resume ao Iraque. Vem de Quioto, do processo de paz no Médio Oriente, das relações difíceis com os aliados europeus, de ... de ... .
Parece agora que o número de actores com quem interagir se vai restringindo. Se calhar Axelrod tinha razão...
AR
Posto isto, e para o raciocínio que se segue assentemos nesta base: os actores A e B cooperam entre si e cada um obtém uma compensação numérica de 3; os mesmos actores não cooperam e cada um obtém uma compensação numérica de 1; dos mesmos actores A coopera e B não – agindo de forma oportunista - , B obtém uma compensação numérica de 5 enquanto A obtém 0.
Daqui resulta que se os actores agirem de forma oportunista nas suas interacções com outros que cooperem maximizam os seus ganhos. Se os seus interlocutores também não cooperarem então os ganhos serão equivalentes a 1 para ambos. Pode-se concluir, assim, que em interacções esporádicas, não cooperar é mais vantajoso do que cooperar.
Os resultados alteram-se quando o cenário muda: quando as interacções não são esporádicas. Aí, a não cooperação dar-lhe-á vantagem numa primeira interacção mas numa segunda não haverá cooperação, enquanto que os que cooperam entre si desde o início tenderão a cooperar no futuro. Daqui resulta que, a prazo, os oportunistas tenderão a ser ultrapassados pelos que cooperam. Exemplifiquemos: A coopera na primeira interacção e manterá com o seu interlocutor, nas interacções seguintes, o que aquele fizer na primeira; B age da mesma forma que A; C não coopera. Assim, nas primeiras interacções entre eles os resultados serão: A e B = 3 para cada, A e C = 5 para C e 0 para A, B e C = 5 para C e 0 para B. C surge destacadamente à frente, com 10, enquanto A e B surgem com 3. No entanto, numa segunda interacção, os resultados serão: A e B = 3 para cada, A e C = 1 para cada, B e C = 1 para cada. Temos então que A e B conseguiram nesta interacção 4 enquanto C conseguiu apenas 2, com acumulados de A = 7, B = 7 e C = 12. É claro que com a continuação das interacções, A e B ultrapassarão C. Conclui-se, portanto, que num ambiente em que a interacção seja possível mais do que uma vez a cooperação entre os sujeitos é mais produtiva do que as acções oportunistas.
Evidentemente, que este cenário pode ser alterado significativamente no número dos que cooperam e dos que não o fazem. Mas os resultados apresentados por Axelrod apontam para um predomínio no médio/longo prazo para os cooperadores num ambiente em que não sejam mais do que 4% ou 5% do total.
Passemos agora da teoria para a prática.
O Sistema Internacional é um sistema razoavelmente fechado, no sentido em que o número de actores estaduais é finito, sendo razoavelmente grande a possibilidade não só de interagirem entre si mas de o fazerem de forma continuada. Os Estados com comportamentos oportunistas tendem a ser “conhecidos” e a levar a cabo poucas interacções com outros Estados. Por seu turno, as interacções entre os que procuram cooperar tendem a ser proveitosas e a prolongarem-se no tempo. O exemplo da União Europeia é claro quanto às vantagens da cooperação. Outros casos, como o do MERCOSUL, embora este numa fase menos avançada do que a da Europa, podem ser apontados como apresentando as vantagens da cooperação.
Mas os comportamentos que consubstanciam um abuso de posição são também comportamentos oportunistas. E como tal tendem a ser tratados pelos outros Estados do sistema. A situação actual dos Estados Unidos consubstancia um comportamento oportunista por abuso de posição, embora possa ser justificado em termos de análise realista.
Vem isto a propósito da actual situação no Iraque. Tendo acompanhado com alguma atenção e interesse as “nuances” da posição de Washington nas últimas semanas, constato que de uma posição “ONU para apoio humanitário” se passou para uma posição “ONU para acompanhar a transição e organizar eleições e um processo constitucional”. De uma posição “Só nós e alguns poucos” passou-se para uma posição de “a comunidade internacional deve colaborar na reconstrução e pacificação do Iraque”. Mas também tenho reparado na firme relutância dessa mesma Comunidade Internacional em se meter no “vespeiro” que é o Iraque e da ONU em participar activamente no processo, ficando com o fardo mas não tirando o proveito.
Aliás, a posição de “oportunismo” da actual administração norte-americana não se resume ao Iraque. Vem de Quioto, do processo de paz no Médio Oriente, das relações difíceis com os aliados europeus, de ... de ... .
Parece agora que o número de actores com quem interagir se vai restringindo. Se calhar Axelrod tinha razão...
AR