quinta-feira, outubro 30, 2003

mais listas de espera

Esclarecimento: nada tenho em desfavor dos electrodomésticos. Não pode é a casa, o frigorífico, a televisão, substituir a pobreza do substracto afectivo das relações. Por isso é que há tantos divórcios.
Quando se esgota o prazer consumista do recheio da casa, da mudança da casa, das obras de remodelação da casa, da novidade dos filhos, enfim, das listas de espera, o que resta?
E, como bem disse este rapaz, «casar? Abraçar a velha instituição? Ainda percebo os católicos convictos, que querem a benção do Senhor, mas porque diabo procura um agnóstico o contrato fatal? Supostamente, já ninguém se casa, toda a gente vive com toda a gente, abaixo a velha ordem moral, e patati patata. Mas vai-se a ver, e afinal a maioria ainda opta pela solução burguesa, muitas vezes com toda a pompa de um casamento religioso, embora com um funcionário público em vez de um padre. Ou então com padre e tudo, sem que ninguém remotamente acredite que ele é mais do que um funcionário público. Depois vem o que importa: a festarola, os discursos, e mesmo a instituição kitsch por excelência, a «lua de mel» (pausa para gregoriar).
Julgo que grande parte das pessoas se casam por tradição, por conformismo, pela festinha e eventualmente por razões legais ou fiscais. Quase ninguém, em 2003, acredita no casamento, nem os crentes. Além disso, os casamentos duram quinze dias, pelo que é muito mais prudente juntar os trapinhos, e não arranjar trapalhadas.
Sendo um conservador, acabo assim por desaconselhar quase toda a gente a casar, mesmo porque vê-se a milhas que dois terços desses casamentos acabam rapidamente no buraco (nada de ordinarices, please). É por isso que, observador e céptico, vos aconselho: não se ponham a desejar casar. Juntem-se, ajuntem-se, unam-se de facto, mas não dêem a vossa palavra em público quando o público sabe que a vossa palavra não sobrevive
». O público ou vocês - digo eu.
CC

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