domingo, outubro 12, 2003

o país possível

Assisti, entre o divertido e o incomodado, à polémica entre a Choldra e o Maranhão. Tenho a minha opinião sobre quem teve razão, em termos de lógica e cortesia, mas isso agora não interessa nada. Parece-me sobretudo relevante constatar que a polémica se prendeu com a orientação política de certas Câmaras Municipais, e en passant com as virtudes das terras em causa.
A comparação de localidades, e inerente discussão sobre a "esquerda" e "direita" em termos dos respectivos executivos, sempre me pareceu sintoma de dois traços característicos do indígena portuga: o bairrismo e a clubite. Do primeiro nem falo, o segundo merece-me uma reflexão. Para além dos aspectos meramente folclóricos (gostar ou não de tourada, frequentar o Bairro Alto ou a Kapital), a nota dominante desde meados de Oitocentos é grosso modo a seguinte: quem tem "alguma coisinha de seu" é de direita, os outros mais miseráveis vão oscilando conforme lhes convém.
A verdade é só uma: o país sempre foi uma gigantesca repartição (até os Descobrimentos eram do Estado, caramba!), incapaz de produzir para fazer face às suas próprias necessidades, e ferozmente perseguidor de quem se atrever a revelar livre iniciativa. E as Câmaras são o mais vivo exemplo, vendo o pequeno e médio empresário como a galinha dos ovos de ouro. Ele são taxas, alvarás, fiscalizações, e o resto que se sabe. Sem excepções de cor política.
LR

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