quinta-feira, outubro 02, 2003

Vitória

O Guerreiro erguia-se orgulhoso sobre a pilha de despojos. O sol acariciava-lhe o rosto moreno e dizia-lhe ao ouvido que era o vencedor. O imenso campo de batalha, onde antes dois exércitos se tinham defrontado, estava agora pejado de corpos. Os corpos dos seus inimigos. Derrotara-os. Hoje como antes. Não paravam de surgir, uns após outros, parecendo saír de debaixo das pedras, de trás das ervas mais insignificantes, das águas mais revoltas. Mas derrotava-os sempre. A sua vontade impunha-se-lhes como a sua espada se impunha no campo de batalha.
O Guerreiro erguia-se orgulhoso sobre a pilha de despojos. Os sobreviventes do exército inimigo desfilavam à sua frente, escravos de uma nova vontade, de uma nova força. Restos escanzelados de homens outrora orgulhosos e fortes. Sombras de homens, apenas. Prestavam-lhe homenagem, a ele, que era agora senhor do que fora deles. A sua vontade era a mais forte.
O Guerreiro erguia-se orgulhoso sobre a pilha de despojos. E enquanto o Sol lhe acariciava o rosto, o velho aproximou-se dele e fixou os seus olhos claros nos dele, que lhe diziam:'Ganhei'. Acenou afirmativamente. 'É verdade', disse-lhe. 'Ganhaste. Ganhaste o choro das viúvas, Guerreiro. Ganhaste os gritos dos órfãos. Ganhaste as pilhas de corpos de homens que já não servirão nada nem ninguém.' E afastou-se, enquanto o Guerreiro se erguia orgulhoso sobre a pilha de despojos.
AR

Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?