terça-feira, novembro 18, 2003

Efémero

Um dos dramas de quem não tem fé é a permanente solidão. Não existindo Deus, não existe aquele apoio a que sempre recorre quem foi agraciado com esse dom (ou graça, não sei bem como se chama). Mas pior do que isso, não havendo fé, a vida não é mais do que uma sucessão de dias que se desenrolam, em permanência, até ao último.
Devo dizer que a ideia de a minha vida não ter nenhum propósito maior não me perturba. Pelo contrário, acho uma certa graça à ideia de que aqui estou como todas as criaturas que conhecemos: para crescer, para me reproduzir e para morrer. Como aconteceu a todos os que vieram antes de mim e como acontecerá a todos os que vierem a seguir. Na realidade, vislumbro uma certa beleza no facto de ser parte de um processo que em muito me (nos) ultrapassa, a evolução das espécies, que faz de mim um ser mais elaborado do que os que me precederam e que me permite contribuir, de alguma forma, para que os que me seguirem o sejam ainda mais.
Sou, por isso e em definitivo, a medida de mim próprio, porque em mim começo e em mim termino.
O resto, como dizia o Francês do último Matrix, são construções do consciente para recusar o efémero da nossa existência.
AR

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