segunda-feira, novembro 10, 2003

grãos de pó

MF põe o dedo na ferida. Pergunta o que nos move. O que nos dá alento para irmos todos os dias para um emprego que detestamos, para fazer um trabalho aborrecido e desinteressante - claro que isto só se aplica a, digamos, 90% da população.
Mas a pergunta vai ainda mais fundo, mesmo se (aparentemente) apenas referente ao mundo do trabalho. É sabido que os autores e responsáveis pela gestão de recursos humanos se dedicam ao estudo minucioso dos factores de motivação dos trabalhadores. Para MF esses factores constam de uma «lista fria e bem generalista na qual se incluem todas as pequenas misérias humanas às quais somos sensíveis: o dinheiro, a segurança, o prestígio, a afectividade, enfim toda uma panóplia de coisas e sentimentos com vista a melhorar a auto-estima de cada um». Eles sabem bem disso, conhecem a natureza humana como ninguém. Reduzem os trabalhadores a recursos, tratam dos problemas comunicacionais e do clima organizacional, transformam-nos em cães de Pavlov.
E nós, peões perdidos, ovelhas sem pastor, sem referências outras que não as dos interesses mesquinhos dos nossos tristes quotidianos, conferimos valor supremo às pequenas atribuições a nosso cargo, inflacionamos a importância do conteúdo funcional que nos coube em sorte e inchamos o ego com os nossos ridículos feitos. Somos muito sérios.
CC

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