segunda-feira, novembro 17, 2003

salvação e revolução

Meu caro José.
Também penso que o sofrimento individual pode ser lugar de redenção. Nunca o único caminho, mas um dos modos de se chegar a Deus. Mas a boa nova de Jesus é um anúncio de alegria e não de tristeza, de festa e não de dor, de vida e não de luto. Por isso, identifico-me com a Igreja que alivia a dor do homem, que toma suas «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo dos pobres e de quantos sofrem» (Gaudium et Spes, 1). E que reconhece «escandalosa a existência das excessivas desigualdades económicas e sociais que ocorrem entre os membros e povos da mesma família humana. São contrárias à justiça social, à equidade, à dignidade da pessoa humana e à paz social e internacional» (GS, 29). Daí que seja dever e responsabilidade de cada cristão tomar como sua esta mensagem da boa-nova. Pela obras e não apenas pelas palavras. Não concebo uma proximidade de Deus longe da vivência dos homens.
Parafraseando, embora abusivamente, o Tiago, direi que as pessoas que não gostam da pobreza, não querem que inocentes sofram, evitam ver a miséria, arrepiam-se com a injustiça, estão convencidas de que nada têm a ver com esse mundo. A sua humanidade é outra. Outra que desconheço.
Logo, e também para mim, «a responsabilidade individual de cada um de nós não pode nem deve ser diluível na responsabilidade da sociedade perante nós». O homem não é um bom selvagem, mas também não é o lobo do homem. A natureza humana é mais complexa do que os rótulos da ciência política podem fazer crer.
CC

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