quarta-feira, novembro 19, 2003

ó Tomás, isso não se faz

O Tomás não gostou do que escrevi sobre Maria de Lourdes Pintasilgo. O AR tinha dito: «existe Democracia em Portugal por causa de Sá Carneiro, Mário Soares, talvez Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Almeida Santos, Lurdes Pintasilgo, Mota Pinto, Francisco Balsemão, Salgado Zenha e tantos, tantos outros», e eu pedi-lhe para me explicar de que forma a Senhora Engenheira tinha contribuído para a dita Democracia.
Antes do mais, mea culpa: excedi-me e chamei-lhe aventesma (à Engenheira, não ao AR - para este reservo normalmente epítetos impublicáveis). Por essa razão - e só por essa - as minhas desculpas.
Mas o Tomás levou sobretudo a mal que da lista do AR só a Senhora Engenheira me tenha parecido deslocada, dizendo: «É estranho que precisamente a única mulher citada, aquela que no grupo se distingue por um pensamento político orgânico e não hipotecado a nenhum modelo ideológico prévio, aquela que não fundou nenhum partido, aquela que colocou no centro do debate político português questões tão fundamentais como a cidadania, o impacto cultural da acção política, o exercício da co-responsabilidade para uma justiça social, o cuidar do futuro, seja considerada dispensável.»
Para ser franco, dispensaria outros nomes da lista. Mas falando da figura em causa, recordo-lhe dois momentos históricos. Em 1977/78, viveu-se um momento negro chamado "governos de iniciativa presidencial". O Presidente que tínhamos, e que não (me) deixou saudades, escolhia um primeiro-ministro sem precisar dessa formalidade chamada "eleições", que como toda a gente sabe custam uma data de tempo e dinheiro. A Senhora Engenheira, certamente preocupada com questões tão fundamentais como a cidadania, o impacto cultural da acção política e o exercício da co-responsabilidade para uma justiça social, aceitou alegremente a incumbência de ser Primeira-Ministra não eleita. Durante os escassos meses em que desempenhou o cargo, a produção legislativa foi de tal ordem que os Diários da República correspondentes a esse período têm um muito maior número de páginas que o normal. Será que as leis anteriores estavam todas erradas? Deve ser o caso.
Em 1986, nas eleições presidenciais, a Senhora Engenheira quase conseguiu a proeza de entregar a vitória a Freitas do Amaral na primeira volta. Quem se lembra do Freitas dessa época, e da dinâmica que gerou, sabe o que isto significa. Felizmente não conseguiu o objectivo.
Sabe, caro Tomás, nem sempre as pessoas boazinhas e bem intencionadas são as mais qualificadas para ocupar cargos de decisão. A História tem-nos ensinado que isso tem normalmente consequências funestas. No caso concreto da Senhora Engenheira, penso que os factos são esclarecedores.
Agora, meu amigo, falemos da conclusão do seu post: «LR começa o seu post dizendo dele próprio: "Eu tenho andado caladinho". Confesso que o seu silêncio até se podia confundir com a sabedoria, mas estas suas palavras!». Deixe-me esclarecer que a referência a "estar caladinho" tinha a ver com tricas internas, mas agora que sei que associa mutatis mutandis a minha voz a falta de sabedoria virei postar com mais frequência. Saudações bloguistas!
LR

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