domingo, janeiro 25, 2004
just like honey
Excelente começo cinematográfico de 2004, com este brilhante, comovente e doce «Lost In Translation - O Amor É Um Lugar Estranho», de Sofia Coppola, que acaba de estrear nas salas portuguesas. Um filme que se apresenta inicialmente como uma comédia, mas que, pouco a pouco, se vai transformando num belíssimo manifesto romântico sobre a amizade e o amor, a solidão, os encontros e desencontros de cada um - connosco próprios e com os outros.
A relação dos personagens principais, Charlotte e Bob, faz lembrar a tensão amorosa dos protagonistas de Disponível Para Amar, de Wong Kar Wai (2000), mas é ainda mais subtil e contida do que a do par de Hong Kong. Cito, a este propósito - com a devida vénia -, o apaixonado texto de Pedro Mexia: «Ele é casado, e de meia-idade. Ela é casada, e novíssima. Encontram-se, por acaso, numa terra estranha: o Japão. Têm dúvidas, medos, indecisões. E durante uns dias são a tábua de salvação um do outro. Mas o que é importante é o modo como isso acontece: não se passa nada. Quando digo «não se passa nada» não me refiro apenas à inexistência de cenas de sexo (que seriam inconcebíveis neste contexto), mas ao facto de o casal acidental andar todo o filme de um lado para o outro em festinhas, almoços, deambulações. Não fazem nada de importante. E não dizem nada de importante, a não ser numa espécie de confissão, quase no final. São inteligentes, irónicos, divertidos, tristes. Cantam karaoke. Divertem-se com as diferenças culturais e com tudo aquilo que fica «lost in translation». (...) O que fica «lost in translation» é também a relação entre Bob e Charlotte. É extremamente difícil saber o que sentem um pelo outro. Mais: seria pena que soubéssemos exactamente o que sentem um pelo outro. Bob chega a dizer-lhe, mas ao ouvido, e nós não ouvimos». De facto, ainda bem que não ouvimos o que Bob segreda a Charlotte: isso é lá com eles.
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Charlotte: I just don't know what I'm supposed to be.
Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.
CC