quinta-feira, janeiro 29, 2004

Não é?

Foram conhecidos, dois anos após a sua realização, os resultados de umas provas de aferição feitas a nível nacional, para averiguar da sapiência dos nossos jovens. Para espanto de todos, os resultados foram maus, principalmente a matemática e a português (pelo menos destes ouvi falar, não sei se terão havido mais provas).
Em abono da verdade acho que quase ninguém deve ter ficado espantado, porque todos sabem como é mau o nosso sistema de ensino, como é relativamente baixa a qualidade dos docentes, que não o são por vocação mas porque precisam de ter um emprego, como têm tantas carências as escolas e liceus e, também, como é deficitário o acompanhamento dos pais, que se demitiram da função de educar e formar os seus filhos.
Todos estes elementos, e provavelmente alguns mais, como a qualidade miserável dos manuais escolares, formam o conjunto que permite a este país hipotecar o seu futuro ao criar gerações de analfabetos funcionais e mentecaptos, incapazes de elaborar um raciocínio mais complicado do que a análise do top de música ou do fim-de-semana desportivo, incapazes de compreender o que se lhes diz e, portanto, convencidos, apesar das campanhas maciças que se têm feito, de que o dispositivo intra-uterino é excelente para impedir a transmissão da SIDA, incapazes de ler Camões, Pessoa e Eça porque são chatos (leia-se impossíveis de compreender para quem o vocabulário se resume, grosso modo, a 'fixe', 'bué', 'boa onda', 'bacano' e por aí fora), ou que não sabem que Portugal é um país (o que é que será essa coisa dos países?) e que são portugueses (histórica verídica, passada com alunos de um liceu de Beja, e que ainda hoje não sei se me deve fazer rir se chorar).
Aquilo que me espanta é que, numa escala de 0 a 100, a média a português, por exemplo, tenha andado nos trinta e qualquer coisa.
Mas devo dizer que compreendo o pouco empenho que os sucessivos governos, de todas as cores, têm colocado (apesar do intenso folclore que rodeia cada novo ano escolar) na melhoria desta realidade. É que, como acho que é claro para todos, melhor se governa gente bruta do que informada. Não é?
AR

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