sexta-feira, março 12, 2004

Divagações VIII

Escreveu Eça:
"Ora tudo isto nos faz pensar - que quanto mais um homem prova a sua incapacidade, tanto mais apto se torna para governar o seu paiz!
E portanto, logicamente, o chefe do Estado tem de proceder da maneira seguinte na apreciação dos homens:
O menino Eleuterio fica reprovado no seu exame de francez. O poder moderador deita-lhe logo um ôlho terno.
O menino Eleuterio, continuando a sua bella carreira politica, fica reprovado no seu exame de historia. O poder moderador, alvoroçado, acena-lhe com um lenço branco.
O caloiro Eleuterio, dando outro passo largo, fica reprovado no 1º anno da faculdade de direito. O poder moderador exulta, e quer a todo o transe ter com elle umas falas sérias.
O bacharel Eleuterio, avançando sempre, fica reprovado no concurso de delegado. O poder moderador não póde conter o jubilo, e fal-o ministro da justiça.
E a opinião applaude!
De modo que, se um homem se pudesse apresentar ao chefe do Estado com os seguintes documentos:
Espírito de tal modo bronco que nunca pôde apprender a sommar;
Reprovações seccessivas em todas as materias de todos os cursos;
O chefe do Estado tomal-o-ia pela mão e bradaria, suffocado em jubilo:
- Tu Marcellus eris! Tu serás para todo sempre Presidente do Conselho!"
in Queiroz, Eça de. Uma Campanha Alegre. Pag. 90 e ss. Ed. Lello & Irmãos, 1927.
AR

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