segunda-feira, maio 10, 2004

this is the end, my friends

i) O AR, que nunca deve ter gasto mais de três segundos a ler o Barnabé (caso contrário não diria o que disse no post abaixo) vem, em jeito de provocação rasteira à la TVI, acusar-me de «silêncio cúmplice», que o «enoja», perante os crimes que os terroristas palestinianos cometem.
Segundo esta lógica, também serei cúmplice, por exemplo, dos massacres do Ruanda. É que, tal como o AR, nunca escrevi uma linha sobre o assunto. Mas, ao contrário do dele, o meu silêncio é «cúmplice» com esses crimes.

ii) A lógica subjacente ao raciocínio do AR é simples: quem está na confortável posição de defender o establishment, quem se encaixa no pensamento dominante e na evolução geral da sociedade torna-se apenas um elemento – uma partícula elementar, como diria o Houellebecq – dessa sociedade. Isso permite-lhe participar nela de bom grado, aderindo às matrizes estabelecidas de fora, enquadrando-se na perfeição na dimensão social, histórica, ideológica da comunidade.
Pelo contrário, quem levanta alguma dúvida, os tais chatos «sempre tão lestos a condenar os crimes dos outros» têm constantemente de justificar as suas opções, fundamentar à exaustão aquilo que afirmam, explicar com detalhe as suas atitudes. Mesmo o «silêncio» é interpretado como cumplicidade. Assim, basta nada dizer sobre a Al-Qaeda para esses indivíduos se tornarem cúmplices ideológicos do grupo terrorista.
Quanto ao outros, não. Quem não defende ideais tem a vida facilitada. Mesmo as fraquezas, os silêncios, as contradições do pensamento são sempre justificados: nunca é necessário provar alguma coisa, pois a realidade fala por si e é tal como é que se aceita ser, numa resignação feliz.

iii) Sinto a necessidade (mas porquê?) de justificar constantemente as minhas opções (ser católico sendo de esquerda; ser de esquerda sendo católico – são apenas algumas delas) e isso até me dá algum gozo. Gosto de pensar - é tudo.
Mas magoa-me que este tipo de discurso, despropositado e injusto, parta do meu próprio blog. Já não é a primeira vez que acontece, mas agora atingiu o ponto de saturação. Estou cansado. E triste.

iv) A QUINTA COLUNA teve um significado muito grande para mim. Talvez desproporcional face à importância que deveria ter na minha vida, mas o facto é que, por muitas e variadas razões, se tornou uma das coisas que me deram mais prazer nestes últimos meses. Fui eu quem mais escreveu no blog, quem o alimentou e geriu, quem mais sofreu e se alegrou por ele.
Conheci pessoalmente muita e boa gente graças aos blogs: o Fernando Macedo, o Francisco José Viegas, o Filipe, a Sofia e o Tiago, o Miguel Marujo, o José, o Maranhão, o Rui Almeida, o Bom Selvagem, o Vareta Funda, o Tiago Oliveira Cavaco.
Mas, pelas razões expostas, termino aqui a minha participação n'A QUINTA COLUNA. Continuo na Terra da Alegria, enquanto me quiserem por lá.
Um abraço a todos.
CC
PS: Respondendo à tua pergunta, AR: é claro que as vidas de uns valem mais do que as vidas de outros. Para mim, a tua vida, meu caro AR, vale muito mais do que a vida de muita gente.

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