segunda-feira, dezembro 13, 2004

homenagens

Inicio aqui uma série de posts de homenagem a cada blog que temos linkado na coluna à direita (cruzes, canhoto!).
Começo pela minha querida Terra, com um texto da minha autoria. Depois, seguir-se-à a ordem alfabética.


Como sou herdeiro da tradição católica, cheia de formalismos, rituais, ademanes, simbolismos cujo significado se perde no tempo e que a fraca razão contemporânea tem dificuldade em atingir, não tenho o à-vontade com o divino que têm, por exemplo, os nossos irmãos protestantes. Invejo a intimidade que eles têm com Deus. Parece que falam directamente com Ele e - suponho eu - Deus deve responder-lhes.

A minha relação com Deus passa sempre ao lado d'Ele. É colateral. Concretiza-se sempre através duma externalidade: pela Igreja (a Católica, Apostólica, Romana), com a mediação da comunidade (a paróquia, por exemplo), na pessoa do padre; pela intercessão dos santos; pela leitura dos textos sagrados (com a plena consciência que Jesus apenas escreveu um rabisco fugaz no chão e que nenhum versículo da Bíblia mereceu o imprimatur do Pai); pelo Magistério. Por vezes tenho, como qualquer ateu, pequenas epifanias da natureza. Como qualquer ateu. Noutras ocasiões parece-me que chego mais perto de Deus (ou deixo que Ele se aproxime de mim) através de coisas ainda mais pequenas, como um filme, um romance, uma música. Sei também que não foi Deus quem realizou Por Um Fio (foi o Scorsese), mas não o trocava pelo livro de Judite.
Claro, há a oração. Mas mesmo nos momentos mais intensos de oração, individual ou comunitária, nunca senti que Deus estava pessoalmente perto de mim, a escutar-me. Talvez esteja, mas nunca houve qualquer feed-back da parte d'Ele. Admito, no entanto, que o conteúdo das minhas orações não O comova particularmente.
E também não sou muito bom a ler sinais. Nunca percebi o que Ele me quer dizer. Na verdade, acho que não me quer dizer nada de especial. Caso contrário dizia.

A mim Deus não liga nenhuma importância. Isto é, coloca-me no meu devido lugar, reduzindo-me à minha humilde significância. Assim, como tenho dificuldades em comunicar com Ele, em O conhecer (e, portanto, de O amar), fico-me pela tentativa de amar os meus irmãos. E nem disso sou capaz.

Carlos Cunha [
A QUINTA COLUNA]

Comments:
Isso o quê?
CC
 
" Significância " ??? ou será Insignificância
 
Mas que raio de conversa é esta que não estou a perceber nada?

AR
 
Carlos,
Isso do relacionamento pessoal com Deus é muito complicado (para não dizer "lixado"). Cada um de nós é um mundo, e cada um de nós pode permitir que Deus entre nesse mundo, ou até, que seja o centro desse mundo.
Eu acredito que Ele dá importância a cada um de nós, e cada um de nós tem de perceber como comunicar com Ele.

Pois... estou tão perdido quanto tu. E as respostas às minhas questões sobre a Divindade, geralmente surgem na forma de mais questões.
 
net pulha:
Sim, faz. Sei isso seria uma pessoa pior.
 
Correcçãonet pulha:
Sim, faz. Sem isso eu seria uma pessoa pior.
CC
 
Um post notável este que publicaste na Terra da Alegria.

Fez-me lembrar o poema da Sophia que deixei no Futuros e que começa assim:

"Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
Ou deus"

Já agora, o teu último texto, com comentário ao pessoal do ateimo.net acerta em cheio.
 
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