sexta-feira, janeiro 07, 2005

auf Wiedersehen

Recebo vários imeiles pesarosos com o anunciado fim da livraria Buchholz (escusam de clicar no link, porque o site está inacessível). No assunto pode ler-se salvem a Buchholz!. Começa bem: (vós) salvem a livraria. Não é salvemos a Buchholz. É uma ordem para terceiros, de que o emissor se exclui.
No texto do imeile, antes da referência histórica, informa-se que «a Livraria Buchholz, lugar de referência do nosso (pequeno) universo cultural encontra-se em situação de pré-falência. Agradece-se a todos quantos a frequentaram que a voltem a visitar, de vez em quando. Comprar um livro que não se encontra em mais lado nenhum pode, eventualmente, ajudar a reerguê-la».
Eu, que até nem morro de amores pelo cotovelo invisível do mercado, pergunto-me porquê. Porque é que eu tenho de salvar a Buchholz. Das poucas vezes que entrei na Buchholz fui mal atendido, não apenas com frieza, mas mesmo com má-educação. Não é agradável ir à Buchholz. Tenho sempre a sensação que estou a incomodar ou a ser inconveniente, que não sou bem-vindo, que aquele espaço fechado não é para mim. É mil vezes mais agradável ir à Fnac ou às renovadas e bonitas livrarias Bertrand. Além disso posso visitar estas livrarias no meu tempo livre e não tenho de faltar ao trabalho para o fazer. E se quero livros que não encontro em mais lado nenhum, vou a uma livraria antiga ou a um alfarrabista. Como, por exemplo, a Livraria Simões, onde sou bem atendido e encontro sempre o que quero.
Já a Buchholz é diferente. Se não se aguentam com a concorrência, azar. Os livros que vendem são iguais aos outros.
CC

Comments:
Agora que leio o teu post, relembro que as vezes que lá fui o atendimento também não foi dos melhores, numa dinâmica tipo:
-"Sorte a tua que nós existimos, para que tenhas o raro privilégio de cá entrar!"

o net pulha
 
Nunca comparei os preços da Buchholz em relação aos da AMAZON, etc, mas parece-me que, com portes e tudo, os tais livros raros saem mais baratos se importados via internet.
Lembro-me, isso sim, que antes do advento FNACs e etc, só na BUCHHOLZ se encontravam certas obras. Mas desde que a internet e as grandes superfícies culturais tomaram posição a concorrência fez mossa.
E se a diferença era o atendimento personalizado e atencioso...
Nein!!!

das net pulha
 
Tive o mesmo sentimento quando surgiu uma petição semelhante, «Salvem o Cinema Santo António» (de Faro). Durante anos beneficiaram de ser o único cinema da capital algarvia, bastando-lhes como clientes os farenses que não tinham pachorra de se deslocar a Olhão ao mais moderno Cinalgarve, ou os olhanenses que tinham perdido a oportunidade de ver determinado filme na sua terra, sujeitando-se aos bancos de pau da sala farense. Quando começaram a surgir novas salas em Faro é que lhes deu o choro.
 
Se é apenas por causa do atendimento então deixa de ir a lojas, restaurantes, cafés e por aí a fora onde não sejas atendido por brasileiros. O mau atendimento acontece na grande maioria dos estaelecimentos comerciais em Lisboa, pelo menos. É pena mas é assim mesmo, sorry...
 
RE:Isa
Como as coisas estão em Portugal, prefero mil vezes ser atendido por um brasileiro ou por um moldavo, porque esses sei que me vão tratar com educação. O nível de exigência para os trabalhores estrangeiros é bem mais elevado.
O que se passava na Buchholz era mais a cena do clube privado dos ultra-intelectuais.
Os clientes ocasionais pareciam ser uma grande maçada, pouco interessantes, como diria a Ministra da Educação...

o net pulha
 
Não tem a ver com as exigências aos estrangeiros. Os brasileiros são assim. Vai a uma cidade como São Paulo e é igual. Essa arrogância tem a ver com o melhor estilo português, basta veres a atitude de um Ronaldinho Gaúcho, de um Ronaldo e de um Nuno Gomes, de um Figo a falar aos jornalistas e vês a diferença. Lê uma entrevista de um Tom Jobim e de um compositor português e vê a diferença. Apesar de o Tom Jobim nem sequer ter vivido no Brasil, a partir de uma certa altura. Vivia em Los Angeles e que fossem ter com ele, se quisessem. Mas caramba é o Tom Jobim... Ainda assim, existia alguma humildade, independentemente da arrogância da genialidade. Além disso compreende-se se conheceres os brasileiros relativamente bem. Existe uma tendência para o abuso brutal, daí a defesa.

Não são uns merdosos tipo Petit e outros que só porque lançam uns discos e fazem umas jogadas se acham reis e senhores do mundo. Num país como Portugal, pequeno como é... Pelo amor de Deus. As pessoas deviam ter um bocadinho mais de noção do quão pequenas são. O Eça é um bom exemplo de genialidade e humildade. Viajou muito e sabia o quão "pequeno" era, é a diferença.
 
Tens toda a razão, Carlos: quanto à «glacialidade alemão», como lhe chamou o Planeta Reboque num post lúcido sobre aquela casa (http://planeta-reboque.blogspot.com/). Mas há um certo tipo de comércio, que dê lá por onde der esse teu cotovelo-convertido-por-instantes-ao-mercado, que tem de prevalecer. E a Buchholz faz parte dele. Chamadas de atenção como a tua, a do Planeta Reboque têm razão de ser. Mas, na Brasileira, também se é tratado aos pontapés, e eu não a gostaria de a ver fechada, mesmo que a brasileira que me atende no Caffé di Roma seja uma simpatia...
 
Mas há uma grande diferença em relação à comparação que fazes, Miguel: a Buchholdz vende os mesmos produtos que os outros, onde, além da simpatia, encontramos profissionalismo e boa-vontade e eficiência. Se uma livraria me trata mal, enquanto visitante, cliente ou... pessoa, por que razão devo continuar a ir lá se posso comprar livros iguais (e mais baratos) noutro local onde sou bem atendido?
Já com produtos alimentares é diferente: além do ambiente, da simpatia, do conforto das cadeira, etc., os bolinhos, o café, a comidinha (a substância) é outra. Há outros factores a pesar numa escolha, mesmo que criteriosa.
 
Hummm, Carlos... Não sei se compro o bolinho que me queres vender. Porque, no caso da Buchholz, não era também apenas um sítio onde se vendiam livros iguais. Era também o ambiente daquele espaço, ou como tão bem "desenhou" FJViegas (http://aviz.blogspot.com/): «escadas, estantes, livros empilhados, desorganização, maus tratos, labirintos, três andares, inutilidades & raridades, pequenas maravilhas, achados, prazos de entrega, presenças do Assis Pacheco».
 
Dizes bem Miguel. "Era". Foi. Agora nem isso. Sobraram os maus tratos.
 
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