quinta-feira, janeiro 27, 2005

A borboleta amarela III

A Borboleta Amarela sobe também aos cumes nevados dos montes. O bater das suas asas provoca tempestades e calmarias, violência e bonança, guerra e paz. O desenho delicado do seu corpo é luz, todas as cores num arco íris suave e esmagador. Tudo perturba e a tudo dá sentido. Persigo a Borboleta Amarela com os olhos, no seu deambular pelas insondáveis alturas do mundo. Tudo é bulício quando a olho e tudo é serenidade, revolta e resignação. Preenche os meus vazios com o bater das suas asas e nela vejo o princípio e o fim. Pergunto-me se a Borboleta Amarela sorrirá. E se dos altos espaços onde sobe me vê, se vislumbra minha sombra estática, enfeitiçada por ela e da qual não me liberto. Estou cansado da minha sombra. Abomino-a. Aborrece-me de morte. Apenas a Borboleta Amarela me dá sentido. Apenas ela me leva consigo até aos cumes nevados dos montes. Quero lá chegar e partilhar o seu vôo, sentir o vento gelado em meu rosto e deixar caír a minha pele seca, renascido no deambular da Borboleta Amarela. Não quero voltar. Quero pairar, eternamente leve e jovem, no rasto do seu vôo.
AR

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