segunda-feira, janeiro 24, 2005

curriculum vitæ

A realidade é um lugar rude e inóspito. Um pouco aborrecido, a maior parte das vezes. A 2ª Circular, o IC 19, os colegas de trabalho (quantos deles seriam meus amigos se os conhecesse noutra circunstância?), eu para os meus colegas de trabalho, os papéis (os papéis? quais papéis?, os papéis!), as coisas desinteressantes (mas importantíssimas) que eu decido todos os dias, as ideias que tenho de ter, a equipa que tenho de gerir (mantê-los satisfeitos, para não baixar a produtividade), o almoço (onde vamos hoje? huum... onde fomos anteontem?), a tarde que se arrasta triste e sonolenta, os mil lugares onde eu preferia estar (mil é uma força de expressão, são só dois ou três), os quilos de livros por ler, que compro na esperança de uma liberdade futura, o regresso a casa, o IC 19, a 2ª Circular, a pausa para um cinema (mas não haverá filmes bons este ano? já vi 5 e não falarei com entusiasmo de nenhum), o cansaço, o desarrumo de um espaço mirrado, a indecisão das pequenas coisas, a certeza das grandes coisas que não acrescentam muito à vida pequena que levo, o tempo que passa, eu que passo por aqui, que passo, que me sento a passar.
Posted by Hello

Mas. Em pequenos rasgos do tempo, como os que nos oferecem os bons livros (e as boas músicas e os bons filmes e os momentos de fuga para o sol e para o mar e a companhia dos amigos e as conversas - mas principalmente os bons livros), descobre-se outra coisa, uma outra coisa que poderia ser, um vislumbre do que pode ser, da possibilidade que impede a ditadura da inevitabilidade. Não é muito, apenas um grão de areia bem colocado, um fio de azeite, um sopro (divino?). Oh, sim, there's more to life than books, you know, / but not much more, / not much more, já cantavam os meus Smiths.
CC

Comments: Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?