sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Divagações XV
A escola era a escola nº 28. Agora mudou de nome mas, julgo que compreensivelmente, continuo a conhecê-la como escola 28. É ali que voto ainda, apesar de há muito não residir em Lisboa. Não sei bem porque é que ainda não mudei. Talvez por nostalgia de um tempo que não volta. É que foi na escola 28 que fiz a minha instrução primária.
A minha professora, a D. Fernanda, era de Évora e, como convinha a uma certa sociedade de província com menos posses, solteira, apesar de à data ir já nos cinquenta e qualquer coisa.
Todos usávamos bata branca e levantávamo-nos quando alguém entrava na sala. Ali ficávamos, de pé, até termos autorização para nos voltarmos a sentar. Lembro-me de um dia ter entrado um senhor e termos ficado uma eternidade de pé, até ele dar autorização à minha professora para nos mandar sentar. Soube depois que era o inspector escolar.
Todas as semanas fazíamos redacções e ditados e mais de dois erros dava direito a régua. Escrevíamos todos com caneta de tinta permanente (imposição da professora e hábito que não perdi), usávamos papel mata-borrão e tínhamos meia hora de ‘recreio’, para onde íamos e vínhamos em formatura.
A minha classe foi a exame nacional de 4ª classe e passou toda. A professora era avaliada pela sua taxa de sucesso em exame nacional. Tínhamos que saber os rios, as serras, as linhas de comboio, as províncias e capitais, as preposições, conjunções e outros palavrões mais os nomes, os verbos e as operações matemáticas, a prova dos nove e a tabuada, o rei lavrador e o infante navegador, rudimentos de história e tantas outras coisas que me não vêm agora à memória.
Em 1975, derrubaram o muro que separava a escola dos rapazes da das raparigas e as classes passaram a ser mistas. E uns senhores muito mal arranjados e de barba comprida andaram, uma tarde de um sol radioso, de gravador a tiracolo (ainda eram aqueles antigos, de bobines) a perguntar-nos se gostávamos das nossas professoras, se eram boas professoras, se nos tratavam bem. Deve ser a única memória daquela escola de que verdadeiramente não gosto.
Este ano voltei à minha escola para votar. A diferença é que trazia pela mão a minha filha de 4 anos. Expliquei-lhe que aquela tinha sido a minha escola, onde tinha aprendido a ler, a desenhar, a escrever, onde tinha sido pequeno (o que, imagino, talvez lhe custe a acreditar) e tinha estado tantas e tantas vezes naquelas salas.
Para uma criança tão pequena, aquela escola é muito grande. Mas ela gostou muito das luas amarelas e azuis penduradas nos corredores. E prometi trazê-la de volta da próxima vez.
AR
A minha professora, a D. Fernanda, era de Évora e, como convinha a uma certa sociedade de província com menos posses, solteira, apesar de à data ir já nos cinquenta e qualquer coisa.
Todos usávamos bata branca e levantávamo-nos quando alguém entrava na sala. Ali ficávamos, de pé, até termos autorização para nos voltarmos a sentar. Lembro-me de um dia ter entrado um senhor e termos ficado uma eternidade de pé, até ele dar autorização à minha professora para nos mandar sentar. Soube depois que era o inspector escolar.
Todas as semanas fazíamos redacções e ditados e mais de dois erros dava direito a régua. Escrevíamos todos com caneta de tinta permanente (imposição da professora e hábito que não perdi), usávamos papel mata-borrão e tínhamos meia hora de ‘recreio’, para onde íamos e vínhamos em formatura.
A minha classe foi a exame nacional de 4ª classe e passou toda. A professora era avaliada pela sua taxa de sucesso em exame nacional. Tínhamos que saber os rios, as serras, as linhas de comboio, as províncias e capitais, as preposições, conjunções e outros palavrões mais os nomes, os verbos e as operações matemáticas, a prova dos nove e a tabuada, o rei lavrador e o infante navegador, rudimentos de história e tantas outras coisas que me não vêm agora à memória.
Em 1975, derrubaram o muro que separava a escola dos rapazes da das raparigas e as classes passaram a ser mistas. E uns senhores muito mal arranjados e de barba comprida andaram, uma tarde de um sol radioso, de gravador a tiracolo (ainda eram aqueles antigos, de bobines) a perguntar-nos se gostávamos das nossas professoras, se eram boas professoras, se nos tratavam bem. Deve ser a única memória daquela escola de que verdadeiramente não gosto.
Este ano voltei à minha escola para votar. A diferença é que trazia pela mão a minha filha de 4 anos. Expliquei-lhe que aquela tinha sido a minha escola, onde tinha aprendido a ler, a desenhar, a escrever, onde tinha sido pequeno (o que, imagino, talvez lhe custe a acreditar) e tinha estado tantas e tantas vezes naquelas salas.
Para uma criança tão pequena, aquela escola é muito grande. Mas ela gostou muito das luas amarelas e azuis penduradas nos corredores. E prometi trazê-la de volta da próxima vez.
AR
Comments:
<< Home
as vezes penso na diferença entre as nossas escolas e as escolas de hoje... parabens pelo blog, gostei mto da forma como tao bem descreveste o ambiente da sala de aula :)
Enviar um comentário
<< Home