sexta-feira, março 11, 2005

Não durma Sr. Eng. ...

Já com uma semana e tal de atraso (um costume aliás, o de não escrever em cima do acontecimento. Todos temos entre nós um White Rabbit que marca as horas e pertinência dos posts, hoje perante o 11 de Março prefiro seguir o Mad Hatter para quem é sempre hora do chá) vou falar sobre curtas. Ou porque é que curtas a concurso deveriam todas, sem excepção, ter um argumento do Mário de Carvalho.
A secção de curtas do Fantasporto é generosa. Demasiado. Tudo entra. Não sei que critérios juntam um videoclip manhoso, uma instalação de 3 minutos, um documentário olhando sobre Esmoriz («É o trabalho final para a cadeira de Multimedia" diz o autor, muito novinho, durante apresentação. Fiquei com dúvidas se a cadeira seria ainda do liceu...depois não a chegaram apresentar), uma curta de animação (que gostei muito) a uma longa que devia ser curta (o "Incognito" com 80 minutos de história que se podia contar em 1/4 do tempo ...). Sentiu-se a falta de bons argumentos. Nas longas metragens também. Proponho um critério mais ou menos objectivo para o ano: argumentos só do Mário de Carvalho.
O realce do escritor está numa das boas surpresas deste ano, foi o autor de "Quem é o Ricardo". O realizador, José Barahona, chegou a receber uma menção honrosa por outra curta, a "Pastoral", que não vimos. A história de Ricardo é simples: um homem, militante do PC, que se depreende que estivesse a viver na clandestinidade, é apanhado pela PIDE. Dele só querem uma informação, quem é o Ricardo. O método seguido a tortura do sono. O respeitinho serviçal sempre presente - «Sr. Eng. não durma...não durma Sr. Eng.!» O cenário uma simples cela pela qual vão passando vários guardas prisionais espelho de personalidades e dramas pessoais (« Sabe, isto não é nada pessoal, mas tenho 4 bocas para alimentar....» ; «Oh Sr. Eng., sabe que eu tenho um cunhado que está com problemas no tractor, como é senhor é da área, pensei que podia ajudar...»). Ainda assim, na hora da porrada e dada a evidente falta de colaboração do prisioneiro, são todos espantosamente eficazes. O homem tem os olhos pisados de sono, cambaleia, delira por vezes, vê a sala andar à roda, mas não cede.
Isto da privação do sono tem muito de terror. Lembro-me que uma vez, estava a estudar para exames e com outros afazeres académicos, passei cerca de dois dias em claro. Após a adrenalina do último exame estava exausta. Meti-me na cama era meio-dia e continuava desperta. A revisão da matéria estudada não parou. Via páginas com gráficos e esquemas. Dei voltas, sentindo o corpo moído e no entanto estava sem sono. Olhei para o tecto e pensei com horror « e se nunca mais dormir?».
Acho que o Sr. Eng. aguentou 7 dias. E sabemos que foi verdade.

Sofia

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