terça-feira, março 22, 2005
só não sei porque não fiquei em casa
Parara de chover e eu estava na posse de um bilhete oferecido (em sistema forward) para um jogo qualquer entre duas equipas candidatas a um lugar nas competições europeias do próximo ano. Deixei o IC 19 para trás e, a meio da 2ª Circular, motivado pela água que tinha caído por Lisboa e como consequência da minha resolução de ano novo, rumei apressado ao Alvaláxia. Lá há casas de banho, pensei. Dei por mim a mostrar o bilhete aos seguranças e a entrar na Casa De Banho, como a CNN pensa que os rivais benfiquistas chamam à Casa de Banho ao Estádio de Alvalade.
Felizmente tinha um livro no bolso. Ando sempre com um livro no bolso e outro na porta-luvas do carro porque sei que, de vez em quando, tenho de aturar um congestionamento no IC 19, esperar por uma amiga ou entreter-me no local de trabalho. Comecei a ler as Três Causas da Infelicidade, de Bertrand Russell. A primeira é a competição. Como tem razão este gajo. Como é bonita esta sincronia, pensei. Eu aqui sentado na banheira, preparado para ver duas equipas do meio da tabela a tentar alcançar o Braga e o Boavista, os seus adeptos – coitados! – tão entusiasmados com a ilusão de passarem uns bons momentos, e o velhinho Russell a sublinhar o óbvio: a ambição e a competição, bem como a mania da perseguição (aos outros, que é a 3ª causa de infelicidade), só trazem angústia e são um obstáculo à felicidade dos homens.
De um lado (para dizer a verdade, de todos os lados), estavam os exuberantes adeptos leoninos, todos enfeitados com cachecóis horríveis, de um verde-Sporting, com listas brancas. Muito feio, mesmo. Além do mais, não estava frio que justificasse o pessoal sair de casa naqueles trajes. Mas via-se muita gente que já devia ter idade para ter juízo envolta nos panos de lã, cheios de confiança, falhos de sentido do ridículo. Do outro lado, acantonados, estavam os dragões, a dar vivas a Vítor Baía (verdade se diga que, neste caso, eram apoiados por quase todo o estádio), ao senil do seu Presidente (pois, pois, o Papa é que devia resignar...), e a desejar calamidades a Lisboa.
Pouco antes do jogo começar, o Estádio estava quase cheio de pessoas vestidas com cachecóis verdes e muitas crianças selvagens com bandeiras repletas de símbolos esotéricos. As várias claques de delinquentes sportinguistas entoavam umas para as outras slogans de rico significado e fino humor: «Em cada Tripeiro», ao que a outra respondia «Há um paneleiro». Fiquei chocado. Não só porque conheço vários tripeiros e pelo menos dois deles não são paneleiros, mas também porque me espantou o conhecimento que aqueles selvagens pareciam ter da sexualidade alheia. Só encontro uma explicação para o facto: é que eles sabem por conhecimento... directo, se é que me estão a entender, e aí nada há a apontar. Nestes tempos promíscuos já pouca coisa me devia admirar, embora estranhe que as experiências homossexuais sejam tão comuns.
Depois o jogo. Não esperava muito do Sporting. Uma equipa que tem jogadores como Tinga, Polga, Tello, Pinilla, Hugo, Sá Pinto, Mota, Ricardo, cujo melhor jogador é o Enakarhire (daí a alcunha: Ê nã kerh ire foi o que disse, num português arrevesado, quando o manager o informou que iria para o Sporting) e que tem como treinador o José Peseiro não pode aspirar a muito. Está certo que iria defrontar o F. C. Porto de Leandro, Léo Lima, Cláudio, Bonfim, e outros brasileiros dolentes, e treinado pelo José Mourinhinho Couceiro, mas as camisolas azuis às riscas brancas (bem como as vermelhas) assustam os jogadores lagartos.
O Porto entrou melhor no jogo, mas o Sporting, através da preciosa ajuda de McCarthy, equilibrou a partida. Ou seja, passaram ambos a jogar mal. O Sporting quase que se equipara ao Porto, se o Porto jogar com menos um. Se for com menos dois, então, com o decorrer do tempo e com o inerente desgaste físico do adversário, o Sporting até parece um bocadinho melhor. Daí que o sr. árbitro, que já vinha rubricando uma boa exibição (não chegou a assiná-la), marcando os lances duvidosos sempre a favor da equipa mais fraca, numa manifestação da sua opção preferencial pelos pobres, resolve (já que o Liedson não estava para aí virado) exemplificar o famoso sistema, a que se refere o Presidente do Sporting ou da SAD do Sporting ou lá o que é. Expulsa mais um jogador (um grego qualquer) do Porto, marca pénalti (foi falta) e oferece a vitória aoBenfica Sporting.
A partir daí, o Sporting defendeu bem, aguentou a pressão de jogar apenas com mais dois jogadores que o adversário (não havia maneira de o árbitro expulsar mais um portista), e o mau futebol continuava a assombrar o relvado. Mas quando os adeptos sportinguistas começavam a mostrar sinais de irritação com o mau futebol praticado pelos seus atletas (cá está: a competição causa ilusão e infelicidade), o Sporting marca outro golo. O jogo acabou logo de seguida e toda a gente saiu satisfeita. Não percebo bem porquê. É certo que é sempre agradável ver o Porto perder, mas não me pareceu que fossemos tantos os benfiquistas a assistir ao jogo.
(Ah!, a segunda causa de infelicidade é a inveja).
CC
Felizmente tinha um livro no bolso. Ando sempre com um livro no bolso e outro na porta-luvas do carro porque sei que, de vez em quando, tenho de aturar um congestionamento no IC 19, esperar por uma amiga ou entreter-me no local de trabalho. Comecei a ler as Três Causas da Infelicidade, de Bertrand Russell. A primeira é a competição. Como tem razão este gajo. Como é bonita esta sincronia, pensei. Eu aqui sentado na banheira, preparado para ver duas equipas do meio da tabela a tentar alcançar o Braga e o Boavista, os seus adeptos – coitados! – tão entusiasmados com a ilusão de passarem uns bons momentos, e o velhinho Russell a sublinhar o óbvio: a ambição e a competição, bem como a mania da perseguição (aos outros, que é a 3ª causa de infelicidade), só trazem angústia e são um obstáculo à felicidade dos homens.
De um lado (para dizer a verdade, de todos os lados), estavam os exuberantes adeptos leoninos, todos enfeitados com cachecóis horríveis, de um verde-Sporting, com listas brancas. Muito feio, mesmo. Além do mais, não estava frio que justificasse o pessoal sair de casa naqueles trajes. Mas via-se muita gente que já devia ter idade para ter juízo envolta nos panos de lã, cheios de confiança, falhos de sentido do ridículo. Do outro lado, acantonados, estavam os dragões, a dar vivas a Vítor Baía (verdade se diga que, neste caso, eram apoiados por quase todo o estádio), ao senil do seu Presidente (pois, pois, o Papa é que devia resignar...), e a desejar calamidades a Lisboa.
Pouco antes do jogo começar, o Estádio estava quase cheio de pessoas vestidas com cachecóis verdes e muitas crianças selvagens com bandeiras repletas de símbolos esotéricos. As várias claques de delinquentes sportinguistas entoavam umas para as outras slogans de rico significado e fino humor: «Em cada Tripeiro», ao que a outra respondia «Há um paneleiro». Fiquei chocado. Não só porque conheço vários tripeiros e pelo menos dois deles não são paneleiros, mas também porque me espantou o conhecimento que aqueles selvagens pareciam ter da sexualidade alheia. Só encontro uma explicação para o facto: é que eles sabem por conhecimento... directo, se é que me estão a entender, e aí nada há a apontar. Nestes tempos promíscuos já pouca coisa me devia admirar, embora estranhe que as experiências homossexuais sejam tão comuns.
Depois o jogo. Não esperava muito do Sporting. Uma equipa que tem jogadores como Tinga, Polga, Tello, Pinilla, Hugo, Sá Pinto, Mota, Ricardo, cujo melhor jogador é o Enakarhire (daí a alcunha: Ê nã kerh ire foi o que disse, num português arrevesado, quando o manager o informou que iria para o Sporting) e que tem como treinador o José Peseiro não pode aspirar a muito. Está certo que iria defrontar o F. C. Porto de Leandro, Léo Lima, Cláudio, Bonfim, e outros brasileiros dolentes, e treinado pelo José Mourinhinho Couceiro, mas as camisolas azuis às riscas brancas (bem como as vermelhas) assustam os jogadores lagartos.
O Porto entrou melhor no jogo, mas o Sporting, através da preciosa ajuda de McCarthy, equilibrou a partida. Ou seja, passaram ambos a jogar mal. O Sporting quase que se equipara ao Porto, se o Porto jogar com menos um. Se for com menos dois, então, com o decorrer do tempo e com o inerente desgaste físico do adversário, o Sporting até parece um bocadinho melhor. Daí que o sr. árbitro, que já vinha rubricando uma boa exibição (não chegou a assiná-la), marcando os lances duvidosos sempre a favor da equipa mais fraca, numa manifestação da sua opção preferencial pelos pobres, resolve (já que o Liedson não estava para aí virado) exemplificar o famoso sistema, a que se refere o Presidente do Sporting ou da SAD do Sporting ou lá o que é. Expulsa mais um jogador (um grego qualquer) do Porto, marca pénalti (foi falta) e oferece a vitória ao
A partir daí, o Sporting defendeu bem, aguentou a pressão de jogar apenas com mais dois jogadores que o adversário (não havia maneira de o árbitro expulsar mais um portista), e o mau futebol continuava a assombrar o relvado. Mas quando os adeptos sportinguistas começavam a mostrar sinais de irritação com o mau futebol praticado pelos seus atletas (cá está: a competição causa ilusão e infelicidade), o Sporting marca outro golo. O jogo acabou logo de seguida e toda a gente saiu satisfeita. Não percebo bem porquê. É certo que é sempre agradável ver o Porto perder, mas não me pareceu que fossemos tantos os benfiquistas a assistir ao jogo.
(Ah!, a segunda causa de infelicidade é a inveja).
CC
Comments:
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aha até me ri (ok até soltei umas quantas garagalhadas sonoras). Acho que na próxima a ver se levas um livrito menos emproado, menos elitista, sei lá... talvez o sei lá, a ver se as alegorias são mais corriqueiras.
Pela foto vejo que se passou bastante tempo no lavabo. Consequências de alguma feijoada ?...
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Pela foto vejo que se passou bastante tempo no lavabo. Consequências de alguma feijoada ?...
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