terça-feira, abril 12, 2005

A história de uma conversão forçada

The conduct of God, who disposes all things kindly, is to put religion into the mind by reason, and into the heart by grace. But to will to put it into the mind and heart by force and threats is not to put religion there, but terror; terorrem potius quam religionem.Pascal

Como se sabe aqui na AQC ama-se de paixão os Smiths. Quando comecei por aqui pensei que o Benfica seria o único ponto a tears us apart, mas notei a hostilidade dos elementos masculinos perante a minha ignorância e mesmo alguma falta de paciência para prestar culto ao grupo.

Facto assente é que é evidente que foram um grupo importante e que marcou uma geração, assim como são os Pixies, Jesus & Mary Chain, Nirvana, ou os Sonic Youth. Eu apanhei mais esta leva.

Preocupados com esta falta de minha parte num destes dias emprestaram-me uma revista brasileira onde Morrissey dava uma entrevista. Pensei que seria óbvio que a graça do espírito entrasse mais pelo empréstimo de alguns Cds, quiçá ofertando a bela da t-shirt do the queen is dead, mas não, quiseram introduzir-me no culto através da figura iluminada do front man (Saint Morrissey, há um livro que lhe chama Saint). Parangonas da reportagem gritavam "vegan radical, celibatário, contra o Blair". Morrissey fala num tom algo magoado, a roçar a lamechice, que tinha sido esquecido pela "indústria". Tenho confirmado com alguma frequência que este tipo de reportagens são um verdadeiro anti clímax, as ideias expressas são vazias, a personagem revela-se tal como é, um pateta egocêntrico que partilha traços de personalidade com essa minha nemesis da música contemporânea - o Moby.

Não é por aí.

Pelo contrário sou uma crente do conceito de songs that saved your live. Se todos os dias encontro uma. Já pensei porque gosto tanto de escrever sobre música. Enganem-se se pensam que é por saber muito (sim, já enganei algumas pessoas assim), mas antes porque é um veículo de excelência para tornar palpáveis (não papáveis, essa palavra na moda agora) sentimentos e estados de espírito. Há dias em que encontramos no rendilhar de uma guitarra, num ou dois versos, bolas, nas linhas do baixo, solidariedade profunda na nossa tristeza ou alegria. Também porque a música estava lá em momentos importantes da minha vida, acho que há uma banda sonora sempre, nem que seja imaginada. Ontem estava a martelar essa morphine do Jolie Holland, hoje passo o dia a ouvir Let's get lost de Elliot Smith. Faz-me companhia.

Para provar que não sou teimosa e que até coloco a hipótese que os Smiths me venham a salvar um dia o dia, aceito as oferendas do meu benfeitor e sigo alegre e segura para o concerto dos Einsturzende Neubauten (punk niilista barra industrial barra inclassificável), quarta Tuxedomoon, quinta, talvez, Radio 4 no lux, porque também existe boa música pós 80.

Sofia

Comments:
Amiga Sofia,

Para que conste, gostaria de deixar aqui claro que, ao contrário dos outros elementos da Coluna, não sou um fã dos Smiths. Aliás, em boa verdade, nem os conheço. Não sou capaz de identificar nenhuma canção deles, muito menos de a trautear e não fora o CC, há muitos anos, nem nunca saberia da existência deles. O Morrissey é-me completamente desconhecido, sou perfeitamente incapaz de saber se é ele a cantar se o ouvir, mas pela desmesurada admiração dos LR e do CC, deve ser um insuportável bacoco, longe do ... como é que se diz ... mainstream, porque isso lhe deve dar uma aura presumivelmente intelectual. Enfim, coisas destes gajos!
Por isso, por mim, dou-te autorização para não gostares do Morrissey, do Benfica, do que ou quem quer que seja. E não digas que vais daqui!
AR
 
camarada, recebo este apoio com alegria.
;)
 
camarada, recebo este apoio com alegria.
;)
 
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