sexta-feira, junho 24, 2005

Crónicas de Madrid V

Passou-se mais ou menos assim. O edifício aparentava ser do início do século XX, num requebro Romäntico que varreu o mundo e que 'obrigava' a construír em moldes mais ou menos renascentistas (ou clássicos, ou sei lá, näo consigo distinguir muito bem): Escadarias largas, de mármore, bustos em mármore, tectos pintados, representando deuses ociosos ou em poucas vergonhas. O sítio chama-se Palácio qualquer coisa (o qualquer coisa é invençäo minha, claro) e é mais uma discoteca madrilena. Funciona assim: um saläo grande, com os ditos tectos pintados e as esculturas de mármore (e säo de mármore, que eu fui verificar!) por ali espalhadas tem pista de dança. Martelos. Cheio. Calor e cío. Sala pequena. Bar. Outro saläo grande. Outra pista de dança. Rock. Calor e cío. Outra sala pequena. Bar. Outro saläo grande. Outra pista de dança. Vagamente latino. Calor e cío. Saí às quatro, por solidariedade com um dos meus amigos brasileiros que ía embarcar às 7h da manhä. Näo consegui ir ao piso de cima.

Olhar para o Guernica, ali mesmo à minha frente, com a carga histórica que traz e a genialidade da obra é uma experiëncia mística. Confesso que näo consegui evitar duas lágrimas que me escaparam rosto a baixo e que tentei disfarçar para o Rubens, outro dos brasileiros que me tem acompanhado, näo perceber. Falhei. Percebeu. E näo me lembro do tempo que ali fiquei em contemplaçäo. Miró é desvairado mas muito divertido (digo eu) e a insanidade de Dali é daquelas coisas que se ama ou odeia. Pertenço ao primeiro grupo. Para além disso, o Reina Sofia tinha uma exposiçäo temporária dedicada a Juan Griz. O nome näo me dizia nada até ontem. Fiquei admirador. Os temas das guitarras, das garrafas de vinho, os corpos das mulheres que se adivinham na sua fase cubista, e os Arlequins.

Mais os cogumelos com ameijoas ou uns mexilhöes que sabiam a mar (deviam ser falsificados, por certo, embora me digam que se come belíssimo peixe e marisco em Madrid, mas eu desconfio dos espanhóis, esses aldraböes...) compuseram um dia a repetir. Embora näo saiba quando.

Tenho pena de näo ter conseguido ir à Igreja de S. Francisco, que me dizem belíssima, mas em compensaçäo assisti aos 'Los Gavilans', uma belíssima Zarzuela (para quem gosta) num teatro dos anos quarenta näo muito grande (aí uns 600 lugares, digo eu) mas muito agradável praticamente cheio às 19h de uma tarde de 3a feira e com a sessäo das 22h esgotada.

Para despedida, os planos incluem näo ir à cama. Mas directo para o aeroporto. Afinal, ainda me faltam algumas horas.

Ah, mas as gajas, as gajas ...
AR

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