domingo, junho 26, 2005

Depois dos 30

Os meus trintas vão bem avançados. E não faltará muito estarão terminados. Vem esta conversa deste post da Hipatia, que tive o prazer de conhecer pessoalmente há poucas semanas.
Escreve a certo passo:

Gosto da ideia de estar a amadurecer. Do conforto que passar para além dos trinta me soube dar. Gosto da postura, da energia, da voz, de uma certa atitude de gente grande que ainda não perdeu as rédeas da infância. Da alegria espontânea de quem ainda sabe brincar e da contenção necessária de quem já se sabe adulto.

Partilho a ideia do amadurecer, da postura, da energia, da voz. Mas não a da atitude de gente grande nem da contenção de quem já se sabe adulto.
Aprendi, com o tempo, a não ter a atitude da gente grande e a brincar sem contenção. Agora, numa idade em que, provavelmente, menos estarão pela frente do que os que estão para trás, não se me fale em contenção nem em brincadeira controlada. Não se me fale em ser adulto nem responsável. Falem-me, sim, em viver cada instante com o prazer de saber que não o poderia ter vivido melhor.
AR

Comments:
"Não se me fale em ser adulto nem responsável."

Claro que se fala, meu caro. E esse é que é o mal. E temos de ser adultos e responsáveis, porque até já sabemos que devem ser mais os que estão para trás do que aqueles que ainda hão-de vir. Sobra-nos, no entanto, saber que ainda é possível desejar não perder as rédeas da infância, saber que é possível construir casas de encantar, enquanto também se encanta com as brancas, com o charme, com a inocência perdida. Porque já a perdemos, de facto. E por isso corremos ainda atrás dela. E por isso nos esforçamos tanto para a recuperar. A sorte é que agora já a sabemos apreciar, saborear a cada instante. E isso é a sorte de quem brinca, sabendo-se adulto, buscando não perder a magia da infância.

Obrigada! Não esperava ver-me por aqui de forma tão elogiosa. Talvez porque brinque demais ;)
 
A propósito, pode ler-se aqui:
«Em cada ser humano existe a noção global de Humanidade. É uma permissa optimista, bem sei. Mas, como já afirmei, eu olho para as coisas de um modo harmonioso, positivo. Existindo esta noção, dispara-se em cada pessoa um automatismo que faz com que nos sintamos responsáveis pela espécie humana, pelo conjunto total de seres semelhantes a nós que povoam este recanto ambíguo do universo. Ora, estas tentativas automatizadas de auto-responsabilização pelo todo não passam de um reflexo instintivo. O altruísmo é uma falsidade animalesca: o ser humano não troca, racionalmente, o seu bem estar em prol de toda a espécie ou mesmo de um determinado grupo - exceptuando se esse grupo se tratar da própria família e isto apenas em alguns casos. O conceito "a minha vida pela dos outros" é uma animalidade. O mártir voluntário não passa de um simbolismo antiquado - noutros tempos, o ser humano não valorizava a própria vida; acreditava nas recompensas da vida eterna, etc. Hoje em dia isso não é nada assim. Desde O Clube dos Poetas Mortos e da generalização da expressão carpe diem, o ser humano com acesso aos cinemas e, mais tarde, à televisão, quando a RTP1 passou a exibir regularmente o filme, deu mais um passo gigante em direcção à iluminação final. Do fétiche populista "a minha vida pelo meu povo" passou-se ao conceito atinado e egoísta "a minha vida é porreirinha, deixa-me cá aproveitar antes que envelheça e/ou adoeça". O egoísmo honesto é a salvação do ser humano enquanto indivíduo em busca da plenitude».

Um abraço adulto e responsável.
 
"O egoísmo honesto é a salvação do ser humano enquanto indivíduo em busca da plenitude."
Obrigado, meu amigo. Descobri que estou salvo!
AR
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?