terça-feira, junho 28, 2005

Divagações XXI

A minha língua não é a minha Pátria.
Não busco a perfeição. Fujo dela.
O Sol agonia-me e o riso dos outros
É-me um ruído insuportável.
Todos os sorrisos são esgares,
Todos os auxílios que me querem prestar
Nada mais são do que imundos lupanares
Onde me recuso, enojado, a parar.
A noite é minha companheira.
Refresco-me no esconso das ruas.
Pernoito com o pecado
E nele me liberto e vivo.
Venham os cínicos e os hipócritas,
Venham as putas, os tolhidos,
Os marrecos, os coxos, os fodidos.
O pior é o melhor.
Esteja o cimo em baixo,
As ordens sejam trocadas
E não saiba mais dos meus braços
Qual mexe, qual estremece.
Levantem-se os mortos, enterrem-se os vivos,
Que tudo se troque e venha o Caos.
Que me importa que viva ou morra
Se tudo é relativo e nada vale?
Não há mais do que átomos,
Energia que gira, transita, transforma,
E da virgem bela e moça
Resulta a velha, decrépita e tola.
São os farrapos vestidos de noite
E das galas sobram orgias insanes.
Cheira-me a cio, perversão, decadência,
Sussurra no escuro a maledicência
E velhos lascivos possuem jovens corpos.
A tertúlia acabou.
Nada resta para além dos copos vazios.
Não há poetas,
Apenas Ogres manetas
Que rabiscam em papel de embrulho.
Cultura são bustos quebrados,
Frescos pintados a sangue em tectos inacessíveis.
O bater do ferro é percussão,
Os gritos das mulheres são música,
A harmonia é um pesadelo do passado.
Estou no meu mundo.
Putas cospem no chão
E chamam-me com bocas negras e fétidas,
Prometendo-me prazeres insuspeitos.
Luzes na rua.
Azuis vazios e brancos mortos.
Amo este mundo negro e fétido,
Decadente e patético.
Nele me espojo e rebolo.
Não tenho caminhos a seguir.
AR

Comments:
Caramba, João da Ega, menino, há quanto tempo!
 
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