quinta-feira, junho 30, 2005

Houston, we have a problem

A propósito do arrastão de Carcavelos, e pegando no post abaixo escrito pela Sofia, gostava de tecer alguns comentários.
É-me absolutamente indiferente se os autores do dito foram pretos, brancos, azuis, amarelos ou se, simplesmente, tinham o corpo pintado às bolinhas. Para mim, criminoso não tem côr.
O que já não me é indiferente é a conversa da treta do Presidente da República. Porque de conversa da treta se tratou. Vejamos.
Na Cova da Moura, o Sr. Presidente podia estar a falar perante dois tipos de público: cidadãos nacionais e cidadãos estrangeiros. Ou muito provavelmente os dois. Mas o que importava dizer (e aí tenho que concordar com parte do que disse o Arquitecto) era que aquilo não só não se vai repetir como os responsáveis vão ser apanhados (ainda que o não sejam ficava a clara manifestação de intenções) e punidos.
Se os responsáveis forem cidadãos nacionais, então aplicar-se-ão as penas que a lei prevê. Mas se os responsáveis forem estrangeiros, após a aplicação da pena e o seu cumprimento dever-se-á proceder à sua expulsão de território nacional.
A minha pouca simpatia por criminosos diminui ainda mais quando são estrangeiros. Não porque tenha algo contra os estrangeiros mas porque acho que quem é hóspede tem especiais obrigações para com o anfitrião.
O mais provável é que, no entanto, grande parte dos delinquentes que levaram a cabo o arrastão de Carcavelos sejam cidadãos nacionais filhos de cidadãos estrangeiros. Muito provavelmente africanos. Ou seja, segundas gerações. Segundas gerações mal integradas (se integradas de todo) no corpo nacional. Esse é um problema que cabe ao Estado e à chamada Sociedade Civil resolver. Mas que não pode ser objecto de contemporizações. Porque para muitos que se encontram mal integrados, muitos outros encontraram o seu espaço na sociedade. A contemporização e o palavreado da treta do Presidente da República apenas legitimam os comportamentos anti-sociais de muitos delinquentes que ao esforço do trabalho preferem o ócio da criminalidade.
AR

Comments:
Mas por que razão o presidente da república haveria de falar do "arrastão" na Cova da Moura? Não estaria a presumir (sem o saber de facto) que havia participantes no "arrastão" que moravam na Cova da Moura?
 
O imbróglio começa logo no termo arrastão. Afinal foram 30/40 jovens que praticaram pequenos furtos não uma acção premeditada, crime organizado ou um estado de calamidade social que foi veiculado.

Quanto ao Presidente ele não estava ali para acusar, para fazer as vezes do tribunal ou da polícia. Isso tem sede própria. Estava a falar a um Bairro que ficou (ainda mais) estigmatizado pela má informação dada. Além de que, reforço mais uma vez, não há relação directa com imigrantes neste caso.

Se morasses neste bairro, como moram cerca de 7 mil pessoas, verias como hoje em dia é quase impossível apanhar um táxi que se desloque lá (ontem uma reportagem da TVI falava de um caso de uma mulher cabo verdiana que esperou horas no aeroporto até arranjar um táxi que acedesse a isso). Verias também como te descriminam apesar de trabalhares, seres honesto e viveres uma vida decente.

Acho que foi a esta gente que o Presidente se dirigiu. Que os responsáveis vão ser apanhados e punidos acho que é de entendimento geral, afinal o Estado de Direito está a funcionar, não é?

Também estou para ver como é que temas como racismo ou xenofobia são conversa da treta como dizes, ou generalidades como diz o Arquitecto. Só se não o sofreres na pele. Infelizmente em Portugal, mais de uma vez, se provou que estas coisas se tornaram demasiado concretas e acabou em morte.

Por último, no comunicado diz a certa altura «nem impunidade, nem sobrepenalização» e nesse ponto discordo com o que dizes que «quem é hóspede tem especiais obrigações para com o anfitrião». Aos cidadãos imigrantes pede-se o cumprimento da lei, igual a outros cidadãos. Não mais, não menos.
 
A verdade é que a situação criada na periferia de Lisboa é absolutamente explosiva. Quem conhece portugueses brancos da minha idade (20-25 anos) que morem no Cacém ou na Margem Sul, sabe que QUASE TODOS têm um ódio de morte aos pretos, que são tão portugueses como nós, pelo Jus Solis. Não houve um mínimo esforço de integração por grande parte da 2ª geração de cabo-verdianos, angolanos e guineenses na nossa sociedade, e isso não pode ser escamoteado, assim como não pode ser encoberto que uma percentagem significativa da delinquência passa por essa 2ª geração. Eles não são coitadinhos. A culpa, como é óbvio, também passa pela incapacidade de planeamento do Estado, tendo sido construídos autênticos "Ghettos". Como agora é tarde, há que intervir nos próprios bairros. Por exemplo, há uns anos, houve aquele incidente na Cova da Moura, com um "mano" qualquer a abrir fogo sobre quem passava. Esse delinquente tinha que ser pura e simplesmente abatido. Não se pode permitir que alguém abra fogo na via pública e saia impune. Foi um sinal perigosíssimo. Tem que haver vontade política de fazer rusgas, com possibilidade de baixas, ou então não estamos nada ilibados de haver confrontações graves daqui a umas décadas.
 
Pedro, mas que % significativa estamos a falar quando dizemos que a delinquência passa por essa 2ª geração de africanos? Poderás também falar daquela gang bem famoso de branquelas que assaltou uma série de lojas de telemoveis no Verão passado em Famalicão (salvo erro)? Chama-se deliquência juvenil e, por acaso, atravessa mais de uma etnia.

Não estou a tapar o sol com a peneira: é evidente que há problemas nestes bairros (que classificas bem como guetos), que há exclusão social, há criminosos, mas o importante a retirar deste caso é a dimensão real do problema (que não impede uma reflexão sobre estas realidades).

Infelizmente neste assunto o que tem perpassado mais são os nossos preconceitos xenofobos. E isso deve-se corrigir através de uma análise mais objectiva e racional. Por isso é importante ler o tal comunicado. Foi o mais objectivo que encontrei até agora.

Neste caso lembro-me que, por 3 anos, eu também fui imigrante. Não há outro lado da barricada.
 
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