terça-feira, julho 26, 2005

Então e o Ali?

«Por enfim, Ali Farka: o presidente da Câmara de Nyafunké (Mali) deu um concerto magnífico, duas horas de viagem a um tempo anterior às cisões da música em géneros. Ouvi-lo é aceder a uma máquina do tempo no exacto instante em que se abre e cria a música, em que a música se imiscui com as coisas dos vivos. Touré faz blues metafísicos, ondulantes e em perpétuo vórtice, a guitarra é um émulo do tempo que retorna incessantemente a si mesmo (quem vive no deserto, tendo sempre e apenas o deserto por companhia só pode fazer música assim), repetindo frases vez após vez até entrar em duelo com o N"Goni (espécie de guitarra de três cordas), ou, mais tarde, com a kora do convidado especial Toumani Diabaté. Por trás, o calabash mantém um padrão cavo - é o cerne de tudo, o lençol de água onde toalhas de notas se sedimentam. Quando o padrão está instalado, os solistas voam. Regressam, muitos minutos mais tarde (a noção do tempo deve ser diferente, no Mali), para cantar o mesmo de sempre: a agricultura, a religião, a família, os animais, a água. Esta música é assim desde o início dos tempos e Farka Touré é assim desde sempre. E é extraordinário, ao ponto de encher por completo aquele anfiteatro e pôr toda a gente de pé a oscilar ao ritmo hipnótico da sua música. Caso não tenham percebido, aquela gente toda era a classe média que, segundo Vasco Pulido Valente, "não serve para nada". No fundo, a verdadeira elite. » (João Bonifácio hoje no Público)

Na realidade não queríamos recorrer ao Bonifácio mas o/a escriba (quando se fala de música o redactor passa automaticamente a escriba) pirou-se para o Porto antes de termos tido oportunidade de sacar crónica com mais propriedade do que aqueles que compõem a AQC.
Pode ser que se redimam nos comentários.

Eu? Eu gostei.

Sofia

PS: Posto isto também porque achei piada à farpa final a VPV. Lugar inesperado não acham?

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