quinta-feira, julho 14, 2005

Grevar ou não Grevar IV

Sofia, as minhas razões não se prendem apenas com o modelo. Prendem-se para começar, com a falta de vergonha e decência de quem nos governa. Eu não faria esta greve se estivessemos todos, mas mesmo todos, no mesmo barco. Não estamos.
O ponto não bate, evidentemente, na revitalização da economia com investimento público. Embora ache que no nosso país, os privados, onde tu trabalhas, estejam sempre a falar (mal) do Estado (como o CC refere abaixo) mas vivam sempre na perspectiva de receber dinheiro e benesses e mordomias e ... e .... e ... desse mesmo Estado e não invistam eles. Sim, porque não hão-de investir os privados e hão-de ficar à espera do dinheiro público?
Quanto às auditorias ... onde trabalho, de cada vez que muda o executivo, fazem-se auditorias. Gasta-se dinheiro e o resultado é ... nada. Mudam-se os nomes dos serviços e fica tudo na mesma. Redistribuem-se as chefias pelos amigos do partido no poder e já está. O problema, mais uma vez, não é da Função Pública (FP) mas de quem nela manda. É que a FP é um bom saco para levar pancada quando convém!
Eficácia? Vou-te dar um exemplo. No meu serviço, um processo demora, em média, 48h a ser despachado. Estou há quase 3 semanas à espera que a SIVA me despache uns documentos, que me devolveram por duas vezes sem esclarecerem correctamente porquê e tive que lá ir para saber o que se passava. A ineficácia da FP é, também e cada vez mais, um mito. Por comparação com o privado (e na minha experiência de contacto com o privado) acho a FP em geral mais eficiente e cordial. Os hospitais privados funcionam tão mal ou pior do que os públicos, os estabelecimentos privados de ensino cobram uma fortuna para providenciar em muitos casos formação igual à do ensino público (aliás, e tirando a Católica, hás-de-me dizer qual a Universidade Privada que proporciona melhor formação do que as Universidades Públicas - e eu formei-me numa privada, portanto acho que sei do que falo), a transformação de alguns serviços públicos em empresas semi ou totalmente privadas tem sido apenas uma forma de arranjar mais tachos sem melhoria do serviço prestado ao público ... e podiamos continuar por aqui ad infinitum.
Concordo contigo quanto aos regimes de excepção. Julgo que deveriam existir para as forças de segurança, professores e ... assim de repente não me lembro de mais ninguém. Mas talvez mais alguém aqui se possa integrar.
Quanto à máquina pesada que nos enterra... O problema em Portugal é que se espera que seja o Estado a criar riqueza. Os portugueses estão pouco feitos ao investimento produtivo. Em geral, num país deveriam ser o Estado e as empresas a produzir riqueza. Ou até apenas as empresas. Eu não tenho para mim que o Estado tenha que produzir riqueza. Acho que tem a função de a distribuir de forma a que aqueles que têm muito pouco possam ter alguma coisa, numa perspectiva de solidariedade comunitária. Acontece que as empresas estão sempre à espera que seja o Estado a fazer o esforço para depois lhes dar algo do bolo. E agora, que não há bolo, estão todos muito preocupados e exaltados, na expectativa de levarem uma mão daqui ou um pé dali.
E para terminar, que isto já vai longo, cito-te: E a reforma algo obscena do ministro, embora eticamente errada, é mais um entre tantos... Também são amendoins isso. Pois é. Não são. Se há coisa que não é amendoins, em Democracia, é a Ética. E acho muito mau sinal quando se começa a pensar assim. O ordenado do Ministro é uma questão fundamental. Porque é esse ordenado que nos dá a medida da sua integridade enquanto governante, da sua legitimidade como político e da idoneidade da sua proposta para a recuperação do país. E esse ordenado, minha amiga, deitou por terra tudo isso.
É também por isso que, àmanhã, vou fazer greve.
AR

Comments:
Isso. A culpa não é sempre dos mesmos. E estas medidas não são nada.
 
Hoje em dia estamos com um nível de despesa pública na casa dos 50% do produto e isto significa que se não se fizer um esforço para a reduzir teremos pagar cada vez mais impostos, ainda mais porque esta despesa tem subido e não diminuido todos os anos. Isto como estamos a observar é completamente inviável em termos de crescimento económico e em termos de nível de vida.
Não sei qual o caminho: se pela auditoria, se pela proibição de entrada para a AP, acabra regimes especiais, extinção de alguns organismos, mas que tem de diminuir tem! Também não estou a defender privatização de hospitais ou do ensino público. A nível escolar, temporalmente muito mais longo e mais bem sucedido do que o das universidades, o tal ranking é pejado de privados, mas essa é outra discussão...
Gostava que os sindicatos também se mankisfestassem sobre esta realidade muito premente (da insustentabilidade), e que apresentassem alternativas para combater este problema. Acho que a responsabilidade não cabe apenas ao governo.
Quanto aos amendoins, era em termos de dinheiro, não representa muito dinheiro os políticos que abdiquem das tais reformas milionárias. Parece que ao menos isso agora vai acabar.
 
mankis... esta foi nova : )

manifestassem.
 
Aquela ideia de o tempo de trabalho prestado durante este "período de excepção" não contar é de gritos. Um verdadeiro delírio.
 
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