quinta-feira, julho 14, 2005
grevar ou não grevar
Ainda não sei se faço greve amanhã. Sinto-me dividido. Por um lado, tenho por princípio aderir a todas as greves gerais. Tenho consciência da importância das lutas dos trabalhadores nas transformações sociais que incorporam o nosso Estado que se quer Social por todo o mundo Ocidental. Desde a jornada das oitos horas semanais até às pequenas conquistas que formaram o Direito do Trabalho, nada foi conseguido sem a luta sofrida de muitos que se bateram por maior justiça e equilíbrio nas relações laborais.
Em segundo lugar, as ofensivas (é este o nome e não há que ter medo de o reconhecer) da ideologia neoliberal passam quase sempre por esse laboratório que é a Administração Pública. Mina-se o território da confiança, instala-se o descrédito (repare-se que se contesta muito mais a ineficácia dos serviços públicos do que se relata a falta de iniciativa e ineficiência dos privados portugueses), mas todos querem usar o Estado para se locupletaram sem mérito (benefícios e incentivos fiscais, apoios a fundo perdido, isenções de contribuições, taxas de juros mais baixas, etc.) e depositam nele a esperança de salvação das consequências do que defendem (veja-se a agitação que percorre os empreiteiros privados com as obras prometidas da construção do aeroporto da Ota e da linha do TGV, sobre as quais impera um silêncio comprometido). Por maior que seja o embuste e menor a necessidade de gastar muitos milhões de contos, não há preocupação com o défice que valha ao lóbi do cimento rosa. E depois, claro, privatizam-se os serviços desnecessários, para que os serviços públicos continuem a ser satisfeitos, embora pior e mais caros (o caso dos telefones, por exemplo).
Por outro lado, não concordo com as razões invocadas pelo pré-aviso de greve. Muitas das razões são vagas e indeterminadas, sem propostas concretas, e até ridículas («contra a redução dos direitos dos trabalhadores da Administração Pública» ou «pela realização de uma política realmente nova que valorize o trabalho, ponha fim ao compadrio e às mordomias dos boys da administração pública»). Outros objectivos são um pouco injustos e desfasados da realidade em que vivemos, como a luta «contra a retirada dos direitos de aposentação e o aumento da idade da reforma». Por mim, não vejo onde está o problema em se mexer na idade da reforma e cortar com os excessos verificados em muitas das carreiras especiais da função pública. São medidas de justiça que se impõem, para garantir o modelo social de segurança social (sem que se deixe de pensar em novas formas de financiamento do sistema) e contra as quais os sindicatos não apresentam proposta alguma..
Estou, portanto, indeciso. Espero decidir até amanhã.
CC
Em segundo lugar, as ofensivas (é este o nome e não há que ter medo de o reconhecer) da ideologia neoliberal passam quase sempre por esse laboratório que é a Administração Pública. Mina-se o território da confiança, instala-se o descrédito (repare-se que se contesta muito mais a ineficácia dos serviços públicos do que se relata a falta de iniciativa e ineficiência dos privados portugueses), mas todos querem usar o Estado para se locupletaram sem mérito (benefícios e incentivos fiscais, apoios a fundo perdido, isenções de contribuições, taxas de juros mais baixas, etc.) e depositam nele a esperança de salvação das consequências do que defendem (veja-se a agitação que percorre os empreiteiros privados com as obras prometidas da construção do aeroporto da Ota e da linha do TGV, sobre as quais impera um silêncio comprometido). Por maior que seja o embuste e menor a necessidade de gastar muitos milhões de contos, não há preocupação com o défice que valha ao lóbi do cimento rosa. E depois, claro, privatizam-se os serviços desnecessários, para que os serviços públicos continuem a ser satisfeitos, embora pior e mais caros (o caso dos telefones, por exemplo).
Por outro lado, não concordo com as razões invocadas pelo pré-aviso de greve. Muitas das razões são vagas e indeterminadas, sem propostas concretas, e até ridículas («contra a redução dos direitos dos trabalhadores da Administração Pública» ou «pela realização de uma política realmente nova que valorize o trabalho, ponha fim ao compadrio e às mordomias dos boys da administração pública»). Outros objectivos são um pouco injustos e desfasados da realidade em que vivemos, como a luta «contra a retirada dos direitos de aposentação e o aumento da idade da reforma». Por mim, não vejo onde está o problema em se mexer na idade da reforma e cortar com os excessos verificados em muitas das carreiras especiais da função pública. São medidas de justiça que se impõem, para garantir o modelo social de segurança social (sem que se deixe de pensar em novas formas de financiamento do sistema) e contra as quais os sindicatos não apresentam proposta alguma..
Estou, portanto, indeciso. Espero decidir até amanhã.
CC