quarta-feira, julho 27, 2005

todos os nomes

O Benfica pôs o nome do Estádio à venda.
Isto de vender um nome tem que se lhe diga. Já desde o Antigo Testamento que dar o nome significa manifestar o poder que se tem sobre o que se nomeia, fazendo-o sua pertença. Deus mostrou ao homem a sua criação e cada espécie «devia levar o nome que o homem lhe desse. O homem deu nomes a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras selvagens» (Gén. 2, 19-20).
Ainda agora é assim: os pais dão os nomes aos filhos, os empresários às suas empresas, os autarcas às suas rotundas, as crianças aos brinquedos, o regime às suas pontes sobre o Tejo, etc., etc.
Ora, o Benfica, glorioso herói em decadência, fiel espelho da nação, governado gerido pelos modernos empreendedores das negociatas espertas, com o afã de presidentes da junta nos mercados em manhãs de campanha eleitoral, resolveu abdicar do simbólico poder que ainda tinha. Depois de se vender à sujidade sociedade anónima, de destruir a cada ano que passa a mística que tinha (vejam o que se passa com a mudança das camisolas da equipa de futebol em cada ápoca) - e que o levou, com orgulho muito seu, a ganhar a independência que tinha e fazia calar alguns esbirros do Estado Novo (as eleições no Benfica sempre foram um espinho na garganta do regime, que assistia impávido à única manifestação democrática em Portugal durante décadas e que mostrava ao País que a democracia podia funcionar), depois de vender o coração, vende agora a alma.

Esta operação mercantilista é tão ridícula e as piadas são tão óbvias e fáceis, que até fica mal perder tempo a pensar no assunto sem tristeza. Assim, decidi ajudar o meu clube a estabelecer alguns critérios úteis. Como a ideia é sacar algum dinheiro aos capitalistas, convém que seja a empresas de alguma dimensão, das poucas que, em Portugal, não declaram prejuízos todos os anos. De preferência, uma multinacional, mas dessas que ainda aqui têm estabelecimentos, fábricas e empregam assalariados residentes neste recanto repleto de estádios de futebol novinhos em folha. Por outro lado, para manter uma aparência de dignidade, deve ser uma firma cujo logotipo não seja verde nem azul, mas da cor do nosso sangue: encarnado vermelho. Assim, não podem ser escolhidas das empresas a quem já foram vendidas algumas bancadas no estádio, como a Portugal Telecom, cujo símbolo já ocupa demasiado espaço nas camisolas dos jogadores, transformando o emblema do clube num acessório menor) ou a Sapo. Era o que faltava, associarmos o nome do Estádio a um sapo, cuja cor, mesmo que esteja saudável e bem-disposto, é uma cor doentia.
Também deve ser rejeitada um empresa portuguesa. Não só porque é difícil encontrar uma com uma imagem de seriedade, competência, modernidade e eficiência, mas porque só uma estrangeira tem a$ qualidade$ nece$$ária$ para não dividir os consumidores e ser penalizada pela inveja dos adeptos de todos os outros clubes. Fica, assim, afastada a Sagres (se bem que a Bohemia é uma bela cerveja, pá), que também tem uma bancada no novo Estádio.

Resta, então, a solução que já era a preferível desde o início: a Coca Cola. A Coca-Cola é antiga, um símbolo universal de vitória, de sapiência, de modernidade, de história, de estabilidade, de vigor. E além disso, sabe bem, quando fresquinha.
No entanto, deve haver uma referência, ainda que subliminar, ao antigo nome do Estádio, o nome pelo qual era chamado muito depois de ter mudado para Estádio do Sport Lisboa em Benfica, o nome mais poético de todos os estádios e que só em Portugal poderia existir, neste país cujo dia nacional celebra um poeta, o Estádio da Luz. Assim, sugiro aqui à direcção do Benfica, aos accionistas da SAD e aos jornalistas de A Bola e do Record, o nome dos nomes: Estádio Coca-Cola Light.
CC

Comments:
E se a empresa que comprar o nome do estádio for o Rei dos Frangos?
;-)
 
Grande CC!
LR
 
Brilhante!

GS
 
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