sábado, agosto 20, 2005
Paredes de Coura 2005
No rescaldo do festival só me vêm à cabeça metáforas relacionadas com fogo, quer porque tudo à volta é um fogo posto ou não fosse Agosto (Viana do Castelo, Ponte de Lima e agora Vila Nova de Cerveira), quer porque os Arcade definitivamente pegaram fire ao festival que, com o melhor cartaz de sempre de Paredes, do Verão, da Europa, da Vida, do Universo e tudo mais, tinha as melhores condições para deixar mais actuações memoráveis.
No primeiro dia vi com preocupação que acabei por gostar mais do hard rock ginasticado dos Foo Fighters, mesmo sabendo que o grupo em si é infantil e uma boa porcaria (adenda: perdemos os !!!, tchk tchk tchk para os leigos, porque na malfadada vila não se encontra uma única indicação para o recinto, nem se ouve ou vislumbra sinal de festival). Do segundo dia, de todos o mais cansativo e preenchido, concluo que os Pixies envelheceram mal e que só estão nisto pelo dinheiro. Não há pingo de rebeldia, de arte em mimetear os hits da tua banda (e vinda de um concerto não memorável também dos U2 acho que dá para ouvir a diferença para alguém que ainda gosta da música que faz). Os QOTSA amei e se tivesse mais coragem e não fosse miúda propensa a ataques claustrofóbicos iria para o moshe, porque nisso eles são bons, descargas de adrenalina e violência controlada. Estes são bons e não abro mais pontos na discussão. Restou nestes dias um rock mais ou menos indiferenciado, onde tudo soa mais ou menos igual, sejam os Bravery, os Futureheads ou os Hot Hot Heat, ou seja, um much ado about nothing (e até o digo com alguma tristeza porque admiro bastante os Futureheads) . Julliette Lewis é mais uma encenação de todos os clichés do rock, das calças brancas de cabedal ao cabelo a lembrar o melhor dos Bon Jovi, até alguns stage dives para o que não é mais do que uma banda de covers.
Sobram realmente duas, talvez três actuações porque a minha alma metaleira vibrou muito com os QOTSA. Vivam os Arcade e o child of night, Nick Cave, a quem idade só apurou os instintos.
Sofia
Deve ser triste ter nascido a ouvir a música dos pobres anos 90 e pensar que o mundo se resume à estopada dos riffs do grunge e às letras sem sentido dos grupos que tentavam imitar os Pixies (que, por sua vez, já são um sub-produto dos velhinhos Sonic Youth). Daí que seja fácil impressionar as crianças: basta pôr-lhes a tocar no rádio o bom rock lusitano pré-CEE que elas vibram todas e se espantam com o que de genuíno, criativo, interventivo e inovador se fazia por cá.
Depois explicamos-lhe que o mundo não começou em 1992: as "bandas-maravilha" de hoje decalcam despudoradamente os grupos (mesmo os medianos) dos anos 80: os Bravery os Joy Division, os Depeche Mode e os Duran Duran; os Hot Hot Heat os XTC; os Futureheads os The Jam e The Specials; os Kaiser Chiefs fazem um melting de todos os eighties e imitam outros bons copiadores - os Franz Ferdinand. Os outros fazem barulho, como as explosões no cinema, para assombrar os pategos: Foo Fighters sem pretensão (até seria um excelente concerto, se tivessem canções de jeito), os Queen of the Stone Age mais refinados, até enganam críticos incautos. Barulho a rodos, como se a música fosse apenas um suporte de jogos de computador. Não é, felizmente.
A provar isso, temos os novos (vejam como eu sou objectivo!) Arcade Fire, muito rebeldes, divertidos, eruditos e criativos. Fizeram, em menos de uma hora, o funeral às bandas de sub-suporte. Já os Pixies (uma espécie de crianças-velhas, como aquele síndrome de não-sei-quê), mostraram-se aborrecidos com as suas próprias canções do século passado. Realmente, já deram o que tinham a dar.
Sobra, então, o melhor, o velhinho Nick Cave, cheio de garra, de alma, de coros, de letras complicadas que falam de coisas pesadas e profundas, de Deus que está em casa, do remorso, do sofrimento, do amor para além da epiderme. Do fogo.
CC
No primeiro dia vi com preocupação que acabei por gostar mais do hard rock ginasticado dos Foo Fighters, mesmo sabendo que o grupo em si é infantil e uma boa porcaria (adenda: perdemos os !!!, tchk tchk tchk para os leigos, porque na malfadada vila não se encontra uma única indicação para o recinto, nem se ouve ou vislumbra sinal de festival). Do segundo dia, de todos o mais cansativo e preenchido, concluo que os Pixies envelheceram mal e que só estão nisto pelo dinheiro. Não há pingo de rebeldia, de arte em mimetear os hits da tua banda (e vinda de um concerto não memorável também dos U2 acho que dá para ouvir a diferença para alguém que ainda gosta da música que faz). Os QOTSA amei e se tivesse mais coragem e não fosse miúda propensa a ataques claustrofóbicos iria para o moshe, porque nisso eles são bons, descargas de adrenalina e violência controlada. Estes são bons e não abro mais pontos na discussão. Restou nestes dias um rock mais ou menos indiferenciado, onde tudo soa mais ou menos igual, sejam os Bravery, os Futureheads ou os Hot Hot Heat, ou seja, um much ado about nothing (e até o digo com alguma tristeza porque admiro bastante os Futureheads) . Julliette Lewis é mais uma encenação de todos os clichés do rock, das calças brancas de cabedal ao cabelo a lembrar o melhor dos Bon Jovi, até alguns stage dives para o que não é mais do que uma banda de covers.
Sobram realmente duas, talvez três actuações porque a minha alma metaleira vibrou muito com os QOTSA. Vivam os Arcade e o child of night, Nick Cave, a quem idade só apurou os instintos.
Sofia
Deve ser triste ter nascido a ouvir a música dos pobres anos 90 e pensar que o mundo se resume à estopada dos riffs do grunge e às letras sem sentido dos grupos que tentavam imitar os Pixies (que, por sua vez, já são um sub-produto dos velhinhos Sonic Youth). Daí que seja fácil impressionar as crianças: basta pôr-lhes a tocar no rádio o bom rock lusitano pré-CEE que elas vibram todas e se espantam com o que de genuíno, criativo, interventivo e inovador se fazia por cá.
Depois explicamos-lhe que o mundo não começou em 1992: as "bandas-maravilha" de hoje decalcam despudoradamente os grupos (mesmo os medianos) dos anos 80: os Bravery os Joy Division, os Depeche Mode e os Duran Duran; os Hot Hot Heat os XTC; os Futureheads os The Jam e The Specials; os Kaiser Chiefs fazem um melting de todos os eighties e imitam outros bons copiadores - os Franz Ferdinand. Os outros fazem barulho, como as explosões no cinema, para assombrar os pategos: Foo Fighters sem pretensão (até seria um excelente concerto, se tivessem canções de jeito), os Queen of the Stone Age mais refinados, até enganam críticos incautos. Barulho a rodos, como se a música fosse apenas um suporte de jogos de computador. Não é, felizmente.
A provar isso, temos os novos (vejam como eu sou objectivo!) Arcade Fire, muito rebeldes, divertidos, eruditos e criativos. Fizeram, em menos de uma hora, o funeral às bandas de sub-suporte. Já os Pixies (uma espécie de crianças-velhas, como aquele síndrome de não-sei-quê), mostraram-se aborrecidos com as suas próprias canções do século passado. Realmente, já deram o que tinham a dar.
Sobra, então, o melhor, o velhinho Nick Cave, cheio de garra, de alma, de coros, de letras complicadas que falam de coisas pesadas e profundas, de Deus que está em casa, do remorso, do sofrimento, do amor para além da epiderme. Do fogo.
CC
Comments:
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Concordo em parte com a tua análise, mas convenhamos CC, estás a ser muito paternalista. É certo que os anos 80 foram uma década priveligiada,em que surgiram grupos de grande qualidade e carisma, tendo sido abençoada p.e. com a prodigiosa junção da melodia de Johnny Marr e o sarcasmo de Morrissey, que deliciaram um vasto e fiel público, no qual nos incluimos. Porém, nos anos 90 também temos grandes bandas, como Radiohead que habilmente casa alguns elementos do rock progressivo com uma invulgar sensibilidade estética do punk rock, que se traduzem em experiências músicas de grande qualidade e com grande potencial introspectivo.
Mas,no final do post, já mais recomposto, reconheces o pulsar dos fire, grande momento, a sua genialidade musical e irreverência apaixonaram o público. Partilho totalmente o teu encanto pelo Nick Cave,ele abre as portas para o nosso fogo interior, para o outro lado do espelho, que procuramos ocultar dos outros e de nós, para o amor e desamor. Faz-nos sentir o amor e toda a sua amplitude, em que a pele como órgão superficial intui a dimensão total, logo reflecte a turbulência emocional e não é apenas um indicador físico do desejo.Bem hajas Nick pela tua musicalidade.
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Mas,no final do post, já mais recomposto, reconheces o pulsar dos fire, grande momento, a sua genialidade musical e irreverência apaixonaram o público. Partilho totalmente o teu encanto pelo Nick Cave,ele abre as portas para o nosso fogo interior, para o outro lado do espelho, que procuramos ocultar dos outros e de nós, para o amor e desamor. Faz-nos sentir o amor e toda a sua amplitude, em que a pele como órgão superficial intui a dimensão total, logo reflecte a turbulência emocional e não é apenas um indicador físico do desejo.Bem hajas Nick pela tua musicalidade.
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