sexta-feira, agosto 12, 2005

shag (song) shag

Enquanto os rapazes se divertem com os putativos candidatos presidenciais lembrei-me de tecer umas considerações sobre a estreia do 9 songs que assisti na semana passada no King seguido de debate com o crítico de cinema João Lopes, o blogger/poeta Pedro Mexia e a sexóloga Erika (não sei o apelido) sobre pornografia no cinema. Agradeço o debate. Fico com pena que não se repitam mais iniciativas destas, talvez assim não achasse tão estopada o Dark Waters ou o Batman Begins, e outros tantos que não beneficiaram de alguma maturação para além do simples não presta! Gostei do enquadramento cinéfilo dado por Pedro Mexia e João Lopes, concordei com quase todas as notas de Erika.





Convenhamos, o filme segue uma estrutura tipificada: canção filmada em concerto (que a sexóloga acha que conta a verdadeira história da relação para além de tudo aquilo que a imagem não nos dá) e cenas de queca . O tal shag/song/shag, uma espécie de mcDononalds (pela sua previsibilidade) que a partir de certa altura indica que o vem a seguir será ou shag ou song. Dá um certo descanso e torna a coisa monótona também. Entrecortadas estão as outras cenas, comuns a qualquer relacionamento: rapaz cozinha para a rapariga, fim-de-semana na praia, rapariga observa rapaz a barbear-se, rapariga lê em voz alta para rapaz, rapaz leva rapariga a um club de strip (fase, ao que parece, extremamente comum em todos os relacionamentos, vide 9 semanas e 1/2). O casal não tem amigos, poucos interesses em comum, conversas banais na cozinha e na cama e doses saudáveis de sexo. João Lopes considerou que as cenas de sexo eram cenas de passagem. Para mim, estas eram as verdadeiras cenas. Transitórias (escassas) seriam as outras, sem explicação, apenas fragmentos. No sexo ao menos vemos uma progressão. Tudo o resto é fugaz, desapegado. O sexo está bem presente, por vezes explícito, no sentido em que se vêem órgãos genitais, cópula, sexo oral, e apesar da descrição algo técnica que apresento agora, gostei. Aqui entra também a parte idiota de promoção do filme: ehehe o filme mais explícito inglês, ehehe dura 69 minutos, ehehe, acaba-se com o sorriso alarve por favor.

Afinal as shag scenes, para o meu contentamento e de muitos casalinhos que na sala trocavam apertos de mão, festinhas na perna, eram credíveis (e com isto digo até identificáveis, e por ser de alguma forma familiares, são bonitas). Não propriamente excitantes, mas ternas sem dúvida. Mesmo com o corpo de modelo da actriz (que é modelo e actriz) e o pénis bem abonado do actor, a sucessão de carinhos, de beijos, o suor, os movimentos dos corpos, são realistas. Não estamos perante aquelas cenas estafadas de mulheres em êxtase através de cortinas e tecidos transparentes tipo Emanuelle ou o hardcore desapaixonado da cena centrada na exposição ad nauseam de movimentos mecânicos dos filmes porno. Filmar sexo realmente é difícil, mais difícil parece ser definir uma relação para além do sexo. Pelo menos aqui. Nota importante, muitas das cenas centram-se no prazer no feminino. Isto apesar da personagem feminina ser apresentada como egoísta, neurótica, louca. Pena que alguém que aparenta ter uma sexualidade saudável esteja conotada com essas características. Claro está que o filme está contado a partir das memórias do homem. Talvez explique.

As songs são brit rock, nada de muito novo (Black Rebel Motorcycle Club, Franz Ferdinand, The Von Bondies, Dandy Wharhols), ou ainda menos novo (Primal Scream). Não considero extraordinária a forma como foram filmadas, pode-se até considerar que as canções são apenas um chamariz, como se houvesse uma tradição do 24 Hour Party People a manter. Não se depreende grande paixão do casal pelos grupos. Falam de dança, há um concerto de Nyman que marca o início do fim da relação, mas de resto não vejo grande sentido para ter 9 canções, inteiras, filmadas em concerto, para o desenrolar da história. Sempre dá para bater o pé no cinema. Neste sentido isto não é um filme sobre música, muito menos um sucessor do 24 Hour.

Veridicto final: é curioso. Pelo menos deu bastante debate.

Sofia

Comments:
Boa crítica também no melhor blog do universo.
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?