quarta-feira, agosto 31, 2005
Sombras do Passado
O Penedo da Saudade tinha uma aura quase mágica naquelas tardes de Verão. Lá descíamos a “Cumeada”, nome por que era conhecida a Av. Dias da Silva, passávamos à frente do Quartel da GNR, de onde por vezes saía a guarda a cavalo, em parada, com farda de gala para gáudio da pequenada, e lá chegávamos, não sem antes lançarmos umas pedras aos respiradores do depósito da água.
Nunca sabíamos muito bem por onde começar a aventura. Não me recordo de ter entrado duas vezes pelo mesmo sítio. Mas sempre ouvíamos o cantar sorridente da água entre pedras cobertas de musgo, sempre gelada fosse qual fosse a temperatura da tarde.
Perdíamo-nos a ler as lápides, sombras algumas de mortos que teimavam em se agarrar, ali, a um pouco mais de tempo, e que deixavam na pedra as suas memórias, a sua saudade de uma juventude que não voltara e a alegria de reencontros sentidos. Ali sentados escutávamos os ecos de versos que não faziam ainda sentido mas que, invariavelmente, nos atraíam.
Lá em baixo, o Calhabé mostrava-nos o Estádio e um ou outro bairro. A encosta do outro lado cobria-se de um verde que não mudava fosse qual fosse a época do ano, massa insondável e intransponível de pinhal.
Ainda hoje não compreendo por que nos dava para ir ao Penedo da Saudade. Nunca ali conseguimos brincar. Invariavelmente dávamos por nós sentados com as mãos preguiçosas dentro da água fresca.
Da última vez que ali estive, quase não vi verde do outro lado do vale. Apenas prédios e mais prédios, novas avenidas cortadas a esmo em terra vermelho-barro. E, mais uma vez, percebi porque não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes.
Nunca sabíamos muito bem por onde começar a aventura. Não me recordo de ter entrado duas vezes pelo mesmo sítio. Mas sempre ouvíamos o cantar sorridente da água entre pedras cobertas de musgo, sempre gelada fosse qual fosse a temperatura da tarde.
Perdíamo-nos a ler as lápides, sombras algumas de mortos que teimavam em se agarrar, ali, a um pouco mais de tempo, e que deixavam na pedra as suas memórias, a sua saudade de uma juventude que não voltara e a alegria de reencontros sentidos. Ali sentados escutávamos os ecos de versos que não faziam ainda sentido mas que, invariavelmente, nos atraíam.
Lá em baixo, o Calhabé mostrava-nos o Estádio e um ou outro bairro. A encosta do outro lado cobria-se de um verde que não mudava fosse qual fosse a época do ano, massa insondável e intransponível de pinhal.
Ainda hoje não compreendo por que nos dava para ir ao Penedo da Saudade. Nunca ali conseguimos brincar. Invariavelmente dávamos por nós sentados com as mãos preguiçosas dentro da água fresca.
Da última vez que ali estive, quase não vi verde do outro lado do vale. Apenas prédios e mais prédios, novas avenidas cortadas a esmo em terra vermelho-barro. E, mais uma vez, percebi porque não devemos voltar aos lugares onde fomos felizes.
AR
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Agora é que é mesmo melhor lá não ires: as encostas verdes, que continuavam a existir, embora mais distantes do que na tua infância, estão castanhas e negras, queimadas.
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