terça-feira, setembro 27, 2005
Um grande concerto foi o que os Smog nos presentearam ontem à noite. O evento foi no Clube Lua, uma nova sala na capital, que peca pela má configuração do espaço (quem já assistiu a concertos no Paradise Garage sabe dos inconvenientes deste tipo de discotecas: acústica fraca, má visão para o palco, degraus incómodos, caloraço algo insuportável, …).
11 álbuns depois e Smog, basicamente Bill Callahan, ainda está na prateleira da música-difícil-de-definir, algo que se convencionou chamar lo-fi, base acústica entre o country e o folk, que não se inibe em experimentar. O resultado são canções despidas, áridas, até repetitivas, onde ressalta a voz (e aqui temos uma grande voz). A convenção diz-nos ainda que há que tomar atenção às letras - de um pessimismo irónico muito próprio –, é através delas que vamos sabendo algo mais sobre a sua família (a irmã, a mãe, o pai como acontece em "Bathysphere"), as paisagens que supomos serem de Austin onde se descrevem rios e cavalos, as contrariedades que advêm das relações ("Our Anniversary"), a angústia de ser algo entre o deprimido e o que diz fuck y'all em southern accent. Deram-me ontem a ler algumas das letras: desde o Julius Caesar que nem o próprio Jesus Cristo escapava a este turbilhão de self disdain.
O concerto foi praticamente dedicado ao último trabalho - "A River Ain't Too Much To Love" - tocado na íntegra, em que um dos momentos altos da noite (tal como no álbum) foi o "Rock bottom riser". A acompanhá-lo um percussionista estilo viking, que por vezes tornava as coisas mais violentas e despertava-nos daquela modorra, e a namorada, a talentosa Joanna Newsom, cujas divagações do piano escapavam a ritmos apertadamente repetidos. Do protagonista pouco transpareceu para além da aparente apatia em palco, um alheamento pelos gritos (The well! berravam, acabou por aparecer já em encore e uns furos abaixo do original), indiferente um público que o adorava. "Thank you", murmurou já de saída no segundo encore.
Well, thank you Mr. Callahan.
Sofia
11 álbuns depois e Smog, basicamente Bill Callahan, ainda está na prateleira da música-difícil-de-definir, algo que se convencionou chamar lo-fi, base acústica entre o country e o folk, que não se inibe em experimentar. O resultado são canções despidas, áridas, até repetitivas, onde ressalta a voz (e aqui temos uma grande voz). A convenção diz-nos ainda que há que tomar atenção às letras - de um pessimismo irónico muito próprio –, é através delas que vamos sabendo algo mais sobre a sua família (a irmã, a mãe, o pai como acontece em "Bathysphere"), as paisagens que supomos serem de Austin onde se descrevem rios e cavalos, as contrariedades que advêm das relações ("Our Anniversary"), a angústia de ser algo entre o deprimido e o que diz fuck y'all em southern accent. Deram-me ontem a ler algumas das letras: desde o Julius Caesar que nem o próprio Jesus Cristo escapava a este turbilhão de self disdain.
O concerto foi praticamente dedicado ao último trabalho - "A River Ain't Too Much To Love" - tocado na íntegra, em que um dos momentos altos da noite (tal como no álbum) foi o "Rock bottom riser". A acompanhá-lo um percussionista estilo viking, que por vezes tornava as coisas mais violentas e despertava-nos daquela modorra, e a namorada, a talentosa Joanna Newsom, cujas divagações do piano escapavam a ritmos apertadamente repetidos. Do protagonista pouco transpareceu para além da aparente apatia em palco, um alheamento pelos gritos (The well! berravam, acabou por aparecer já em encore e uns furos abaixo do original), indiferente um público que o adorava. "Thank you", murmurou já de saída no segundo encore.
Well, thank you Mr. Callahan.
Sofia