terça-feira, outubro 18, 2005

Talvez sim, talvez não

A Sofia apresenta aqui por baixo um retrato negro da cidade de Mwanza, na Tanzânia.
Quando li o post a primeira questão que me assaltou o espírito foi: como seria antes? Acho que o documentário poderia ter falado no assunto (admito que não tenha falado). Isso era importante, para se poder comparar a situação anterior com a actual. Embora se adivinhe que o ecossitema do lago estava bem antes.
E a questão é importante porque apenas sabendo como era o antes se pode concluír se o agora é melhor ou pior. Independentemente de o agora ser mau.
Mas não concordo, como seria de esperar (não é?) com a ideia transmitida pelo post de que a globalização - e com ela os europeus - é um instrumento de exploração e criação de miséria.
O primeiro instrumento de miséria em Mwanza parecem-me ser as próprias autoridades locais. Se as armas, que vêm entre a ajuda humanitária, chegam e seguem é porque ou as cargas não são inspeccionadas ou são-no e as autoridades deixam passar. Isso dificilmente é da responsabilidade da globalização - e dos europeus. Se as condições de salubridade são más é porque as autoridades locais permitem que assim seja, eventualmente gastando dinheiro em armas em vez de o gastarem no bem estar da sua população. Isso também dificilmente é da responsabilidade da globalização - e dos europeus. Se são cometidos crimes e ficam impunes, parece-me que isso se deve ao facto de as autoridades locais não estarem interessadas no cumprimento daquilo que, imagino, sejam as leis existentes (a não ser, evidentemente, que na Tanzânia não seja crime aquilo que é no resto do mundo).
Eu tenho para mim que a reportagem em causa deixa ver, apenas, o quão más, incompetentes e corruptas são as autoridades tanzanianas.
AR

Comments:
Já li o post anterior 3 vezes e ainda não percebi onde é que lá se diz que a globalização é um instrumento de exploração e criação de miséria. E que a culpa é (só) dos europeus.
O problema é o da falta de globalização. É preciso mais - e não menos.

É uma questão de modas. Antes tínhamos a culpa de tudo: dos novos pobres na nossa casa, da pobreza da América Latina, da extrema miséria de África, das guerras dos outros, da resquícios dos nossos pecados r acistas, do atraso e dos azares dos vizinhos, das intempéries do lado, da exploração, dos explorados e dos exploradores).
Agora a moda é inversa: não temos culpa de nada (nem das armas que produzimos e vendemos - eles que não as comprem...). É muito mais cómodo assim.

CC
 
AR, também concordo contigo que o problema passa também por uma efectiva democratização da zona. E que há falta de controlo, por parte das suas autoridades, mas das nossas também.

Mas o incrível é que fechamos os olhos, que a Europa olha de lado. No documentário passam umas declarações de um membro da comissão europeia que dizia que a indústria era maravilhosa e beneficiava o povo da Tanzania. E ele estava lá na cidade, no meio de toda aquela miséria, além de se saber os problemas da perca do nilo a nível de sustentabilidade da vida do lago...Está tudo bem.

O incrivel é que há tantas outras responsabilidades, perante e a comunidade local. Que não diz respeito apenas ao governo, diz às empresas que actuam no local.Chocava saber que aquelas toneladas todas de peixe seguiam para nós e que nesse ano iam morrer cerca de 2 milhões de habitantes da zona rural de fome.
 
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