quarta-feira, janeiro 18, 2006
O Cortador de Pedra
Era uma vez um cortador de pedra que trabalhava numa pedreira, dia após dia, de manhã à noite, sem nunca ter um dia de descanso. Entristecia-o o trabalho duro que tinha e o magro salário que ganhava, que mal lhe permitia sustentar a família. Um dia, um funcionário imperial foi visitar a pedreira e o cortador de pedra invejou-o, porque via-o no alto da sua cadeira, carregada às costas de quatro homens, sem ter que se cansar. Aquilo ela vida! E desejou ser, ele próprio, um funcionário como aquele. Os Deuses estavam à escuta e realizaram o seu desejo e o cortador de pedra viu-se na pele do funcionário, sentado na sua cadeira, percorrendo as ruas da cidade. A certo momento parou e ficou aborrecido. Não era ele um homem importante e respeitado? Porque motivo teria a sua cadeira de parar? E disseram-lhe que o Imperador estava de visita à cidade e que todas as ruas estavam bloqueadas para que ele pudesse passar. O Funcionário pensou então que aquilo sim, era vida, aquilo era ter poder e desejou ser Imperador. E os Deuses, uma vez mais, satisfizeram o seu desejo e ele viu-se na pele do Imperador. Mas, enquanto passeava no alto da sua alta cadeira, sentiu os raios de Sol a fazerem-lhe um calor insuportável e desejou ser o Sol, bem mais poderoso do que um simples Imperador. Tal como antes, os Deuses satisfizeram-lhe o desejo e viu-se no alto do céu, com o poder imenso do Sol, que era agora. No entanto, para sua irritação, uma nuvem, bem lá em baixo, colocou-se entre ele e a terra e os seus poderosos raios não conseguiam atingir as cidades e os campos. Afinal, mesmo as nuvens eram mais poderosas do que ele e desejou ser uma nuvem. E os Deuses uma vez mais satisfizeram o seu desejo e ele era, agora, uma imensa nuvem, que não só bloqueava os raios do alto Sol como fazia caír a chuva que queria sobre as terras abaixo de si. Para seu espanto, no entanto, uma enorme montanha bloqueou o seu caminho e ele percebeu que uma Montanha era bem mais poderosa do que uma nuvem. Por isso desejou ser uma montanha e os Deuses, ainda uma vez, satisfizeram o seu desejo. Ali estava ele, agora, aquela imensa massa de pedra, imóvel e poderosa, a quem o Sol não atingia e que não permitia a passagem das maiores da Nuvens. Mas foi sentindo primeiro um certo incómodo e depois uma dor profunda, como quem lhe arrancasse pedaços de si. E pensou: 'Que coisa poderá ser tão mais poderosa do que eu, que arranca partes do meu corpo e me causa esta dor?' E quando olhou para baixo, viu a trabalhar um pequeno Cortador de Pedra.
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