sexta-feira, setembro 29, 2006

Quase ...

A minha amiga Bastet escreveu hoje este post que aplaudo e subscrevo quase na íntegra. Ao contrário dela não me assumo, no entanto, como homem de esquerda.
E não o faço por um motivo muito simples. Porque também a esquerda tem responsabilidade no caminho que se leva. E não falo apenas na esquerda caseira, tacanha e atrasada. Essa, está ao nível da igualmente tacanha e atrasada direita caseira. Portugal perdeu há muito a faculdade de ver mais longe e de sonhar mais além. Aliás, desde D. João II e D. Manuel I que, provavelmente, o único estadista que ousou sonhar um Portugal maior (embora mais pequenino aqui) e que foi senhor de uma honestidade a toda a prova (apesar das tentativas torpes da revolução e da pós-revolução), foi Salazar. Mas isso é outra conversa, para outra altura. Falo da esquerda desse mundo civilizado que, vazia ideológicamente, se rendeu ao canto do capitalismo.
Não me considero, hoje, de nada. Porque acho que não há sítio nenhum onde me possa rever. Não me revejo no Liberalismo que (atente-se ao tempo verbal) nos conduziu a um novo capitalismo selvagem, potenciado pela globalização. Não me revejo na esquerda burguesa e hipócrita, sedenta dos privilégios dos ricos e falha de preocupações sociais. Não me revejo na esquerda, que ainda não percebeu que morreu, dos velhos e decrépitos partidos comunistas. Nem me revejo na extrema esquerda proto-intelectual que cospe alarvidades sem sentido convencida de que tem a solução para todos os males, como os vendedores de banha da cobra.
Revia-me numa social-democracia escandinava, que aceitava o capitalismo mas defendia as pessoas. Também essa me parece ter iniciado o caminho do desmantelamento incapaz, só por ela, de fazer frente aos ventos de desumanização que varrem o nosso mundo.
Acho que estamos no limiar de uma profunda transformação civilizacional. Tenho sérias dúvidas que seja um salto em frente face ao que temos hoje. Pelo contrário, consigo mais facilmente imaginar uma nova Idade das Trevas, tão avançada tecnológicamente como carente de humanidade, refém de irracionais fanatismos religiosos, onde a vontade de cada um é cerceada pelo medo e pela insegurança. Como dizia uma amiga minha, é como se visse uma negra figura a abraçar este nosso mundo. E inevitavelmente me vem à memória a imagem do Sauron de Tolkien e a convicção de que, talvez desta vez, não se consiga destruír o Anel.
AR

Comments:
Essa falta de fé e de ideologia, envelhece-te precocemente meu amigo.
 
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