terça-feira, outubro 24, 2006

Carta Aberta ao Senhor Primeiro Ministro

Caro Engenheiro José Sócrates,
Permita-me que comece esta singela missiva apelidando-o de mentiroso. Pensei um pouco sobre a forma como deveria começar e não encontro melhor forma de começar do que chamando-o de mentiroso.
Sabe, podia começar por lhe chamar canalha ou ordinário, vigarista ou boçal, javardão ou panasca, mas entendi que o melhor mesmo, a forma mais polida digamos assim, era a de o apelidar de mentiroso. Sem prejuízo, evidentemente, de todos os outros adjectivos lhe assentarem que nem uma luva.
E porque é que eu, obscuro cidadão desta república, o trato assim, pergunta-se V.Exª? Por ser verdade. Eu explico.
O senhor engenheiro fez uma campanha eleitoral em que prometeu - repare no verbo referido - que não subiria os impostos, não mexeria nas taxas da saúde, não terminaria com as SCUTs e por aí fora. Hoje, um ano e meio depois da sua eleição, as taxas moderadoras vão ser aumentadas, as SCUTs vão desaparecer, os impostos aumentaram, os vencimentos vão ser aumentados abaixo da inflacção, as comparticipações sociais do Estado diminuem e a paz social desapareceu como que por milagre, tendo havido mais greves e manifestações até esta data do que nos anos anteriores.
Repare que eu não contesto que algumas medidas sejam acertadas - nomeadamente o fim das SCUTs. Mas não é isso, evidentemente, o que está em causa. O que está em causa é que o senhor mentiu. Fez promessas que sabia não ir cumprir. Olhou nos nossos olhos e, como um qualquer bandalho ordinário, mentiu descaradamente, sem pestanejar, para ganhar uma merda de umas eleições. Ficamos assim a saber que para V.Exª, o resultado fácil no imediato é bem mais importante do que a verticalidade de carácter e a honestidade, a decência e o respeito pelos outros. Se outros motivos não houvessem, deixe-me dizer-lhe que o senhor está apresentado. Mal, certamente, mas apresentado.
E se é um facto que, por questões profissionais, já me coube a obrigação de lhe apertar a mão, deixe-me dizer-lhe que a lavei de seguida.
Queira aceitar, senhor Primeiro Ministro, os protestos do meu mais elevado desprezo e falta de consideração,
AR

Comments:
Até parece que nunca ouviste falar em gestão por objectivos... primeiro ganhar as eleições e depois fazer pela vida...
 
É o SIADAP... Mas era na peida!
 
Ainda havemos de ver o Sr. 1º Ministro, quando se deslocar aos vários locais para as suas conversas em família (de onde será que eu conheço esta frase?) e não ter só manifestações a aguardá-lo, mas a fugir de uma chuva de ovos... e se tal não acontecer os Portugueses bem podem declarar este País em falência, sairem pela Portela e não esquecer que o último deve apagar a luz!
 
Abril de 2007: a falsidade é análoga a uma reacção em cadeia ...
 
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