terça-feira, novembro 21, 2006

Banco de Jardim

Provavelmente é da constipação mas tenho dias assim. De completo desalento. Estava a pensar em escrever aqui qualquer coisa sobre política mas não. Hoje não vale a pena. É preciso um certo estado de espírito para isso e eu hoje estou cansado, demasiado cansado, de bater na parede. Ninguém disse que a água não se magoa.
Quero falar aqui de um banco de Jardim. Sim, de um banco de Jardim.
Há umas semanas vi esse banco de jardim na escola da minha filha. Para ser franco nunca tinha reparado nele. Mas ele ali estava. Era um banco de jardim pequeno, feito de uma madeira fina, a convidar-nos a sentar. Nunca tinha visto ninguém sentado nesse banco de jardim. Curioso, aproximei-me e vi que tinha uma pequena placa. Dizia o nome de uma menina e tinha duas datas. Era a Mariana e nasceu no mesmo ano da minha. A Mariana morreu no ano passado. Descobri mais tarde, por puro acaso, que de cancro no duodeno. A Mariana seria este ano colega da Clara.
Sentei-me no banco da Mariana, a pensar nas duas. Se seriam amigas, o que é que descobririam juntas nesta aventura tão dura e tão maravilhosa que é a Vida. E Crescer. E Descobrir. Pensei, com ternura, nos pais da Mariana, que não conheço, mas que sofreram essa catástrofe que é perder-se um filho.
E, enquanto pensava que a Clara nunca iria conhecer a Mariana, constatei que estava errado. A Mariana estava ali, naquele banco, ao alcance de todos os meninos e meninas daquela escola. Como se a morte da Mariana a tivesse tornado de todos e não apenas de alguns.
Não sei se este pensamento é particularmente reconfortante. Para os pais da Mariana não será certamente. Mas para os outros, aquele banco de jardim será outro motivo para abraçarem os seus filhos com mais força.
AR

Comments:
Quem te disse que não foram, são ou serão amigas?
 
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