quarta-feira, novembro 01, 2006

Do Amor

A minha amiga Bastet, a propósito deste post, escreveu que "... Essa cena do amor pá é mesmo uma gaita!" Não poderia estar mais em desacordo contigo.
O Amor tem essa qualidade extraordinária de não se conseguir explicar. O Amor não se pensa, não se compreende e não se racionaliza. Ou se sente ou não. Ou se vive ou não.
Eu tenho para mim que, enquanto seres humanos, o Amor é o sentimento último, onde nos realizamos verdadeiramente, onde nos tornamos maiores e nos distanciamos, decisivamente, do resto da criação.
Muitas vezes se fala no amor sofrido. Não acredito nisso, apesar das fracas imitações poéticas que por aqui vou deixando. Por muito que por vezes me custe vivê-lo, por muito que por vezes me desespere com ele, o Amor permite-me viver, todo e cada dia, os momentos mais felizes da minha existência.
Quando falamos com quem amamos, quando com essa pessoa partilhamos um telefonema, um sorriso, um olhar, um cheiro, um toque, uma cumplicidade, por vezes mesmo apenas o saber que esse alguém está ali, ainda que o ali não seja logo aqui, quando vivemos isso somos, já, os mais felizes dos seres. E mesmo quando nos separamos, à tristeza da separação sobrepõe-se a felicidade da certeza do reencontro.
Citas bem Camões quando escreves "... para mim bastava amor somente". Nunca nada me deu o que do Amor recebo.
Quando estamos sós e a noite parece desabar sobre nós, ameaçadora e definitiva, quando enfrentamos os nossos demónios nesses momentos de solidão, mesmo nesses momentos, sabemos que somos melhores. Sabemos que crescemos mais do que os que não foram capazes de amar, que não tiveram a coragem de se deixar abraçar por esse sentimento, de se entregar à doce tranquilidade do Amor. Porque para isso é preciso coragem. E, repito, nesses momentos de maior escuridão dos nossos dias sabemos que, nos levasse a Morte naquele instante, tinhamos vivido a experiência mais enriquecedora das nossas pequenas e, em muitos aspectos, inúteis vidas porque tinhamos tido essa felicidade maior que é amar.
Não consigo conceber uma vida sem Amor. Não consigo conceber essa tristeza. Porque assim como o Amor nos preenche em absoluto a sua falta é também um vazio absoluto. E não consigo imaginar o desespero de o encontrar e o perder.
Em bom rigor, não creio que o percamos nunca. Mesmo que nos separemos de quem amamos, porque a verdade é que a vida nem sempre é aquilo que desejamos e nem sempre estamos no sítio certo no melhor momento, não creio que tenhamos que o perder. E essa é outra grande qualidade do Amor. A de nos ajudar a seguir em frente, mesmo que ele fique para trás, e de seguirmos em frente mais ricos, mais serenos e mais felizes.
AR

Comments:
Esqueceste-te de referir que a seguir ao "essa cena do amor pá é mesmo uma gaita" vinha um smilie. ora, isto, meu amigo muda tudo.
 
Foi um momento de meia desonestidade intelectual para poder servir de arranque ao texto. Não me leves a mal.
AR
 
Estás perdoado!
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?