quinta-feira, novembro 16, 2006

Tempo

Ela segurava a mão dele com ternura. Estava fria. O som da máquina de suporte à vida repetia-se sempre ao mesmo ritmo, marcando a passagem do tempo. A passagem do tempo. Do Tempo.
Sorriram um para o outro, sabendo que o momento estava a chegar, mesmo ali ao alcance da mão, tão presente que lhe poderiam tocar se quisessem mas não queriam porque preferiam dar as mãos naqueles instantes.
As rugas marcavam os seus corpos, marcas na carne de uma vida completa. Começada tarde mas completa. Os olhos dela continuavam os mesmos, os mesmos de sempre, do dia em que se haviam conhecido, do dia em que ele lhe dissera que a amava, do dia em que ela lhe dissera que o amava, do dia em que os seus filhos corriam pela casa, do dia em que os seus filhos lhes mostraram, orgulhosos, os seus próprios filhos, daquele dia, em que se despediam com um até já como tantos outros que tinham dito antes, nos ciclos do tempo em que se haviam encontrado, em tantas vidas antes e em tantas vidas que viriam.
O seu amor era a marca da eternidade e eles o seu instrumento.
O seu corpo debruçou-se sobre ele e ela inquiriu nos olhos dele se era agora. Ele sorriu e o seu sorriso disse que sim.
Uma pausa. A mão dele ficou inerte, presa na sua. Ela sorriu.
- Até já.

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