quinta-feira, março 08, 2007

Divagações LXXXV

O português nunca está bem. Já repararam que nunca diz que está bom quando lhe perguntam como vai? Responde sempre que vai andando ou que está assim, assim. A resposta mais extraordinária é a 'como Deus quer'. Ou seja, não tem nada com isso. Anda de uma maneira ou de outra não porque queira ou possa mas porque 'Deus quer'. E isso resolve os problemas, nomeadamente o problema da inveja. O português é invejoso por natureza. Gosta de tudo médio e cinzento. Se algum diz que está bem os outros calam e pensam 'este gajo tem um esquema'. Não se pode estar bem a não ser que se tenha um esquema. Se se arranja um emprego bom é porque tinha uma cunha e torna-se, automáticamente, um malandro e um incompetente que anda a lamber as botas ao patrão para conseguir ter um bom emprego. Que, de resto, passa logo a 'tacho'. Onde não faz nada e que devia desaparecer por manifesta inutilidade. Se tem carro da empresa convém que seja um Corsa comercial. Ou um Punto manhoso. Se não, é porque andou a dormir com o patrão ou é um capacho.
Um português não pode ter um bom apartamento ou uma vivenda bonita. Se tiver azulejos na rua ainda vá, tem mau gosto, é cá dos nossos. Mas se for uma coisa bonita então é um rabeta, com tiques de fino. Se não diz 'portantos' tem a mania que é mais do que os outros.
O português cospe no chão porque é assim. O chão tem como função principal ser o repositório nacional da escarreta, aquela puxada bem lá do fundo, verde e, de preferência, com uns laivos de encarnado, atirada ali mesmo para o meio do passeio, onde tem mais impacto físico e visual. Assoar-se, principalmente a lenços de papel, é presunçoso. É-se logo acusado de 'se ter a mania'.
O português não faz pisca, não respeita as regras de prioridade e adora estradas com buracos: consegue fazer gincana e diz mal do governo. Que é outro desporto nacional. Para além do futebol, claro. Os governantes são sempre maus e fazem sempre coisas más. O que, por estranho que pareça, não acontece sempre, reconheça-se. São sempre uns malandros mas, imagino que por masoquismo, vai votando neles.
O português é um bicho muito estranho.
AR

Comments:
É, de facto, um bicho muito estranho.
Mas que fazer, é o povo onde pertenço. Pertencemos. Quer queiramos ou não.
Por isso, meu caro AR, o melhor é lá continuarmos com aquele ar que nos descobrimos quando nos encontramos. Rindo, é claro. Pelo menos enquanto for de borla o rir.
Aquele abraço
 
Eu acrescentaria algo ao comentário anterior, continuaremos a rir enquanto os políticos não descobrirem um modo de nos taxarem pelo oxigénio que respiramos.
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?